quarta-feira, 4 de março de 2009

Uma maternidade em Auschwitz

via Um Homem das Cidades de noreply@blogger.com (Diogo) em 01/03/09


No Wikipedia:

O objetivo principal do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau não era o de manter prisioneiros como força de trabalho (casos de Auschwitz I e III) mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objetivo, equipou-se o campo com quatro crematórios e câmaras de gás. Cada câmara de gás podia receber até 2.500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na Primavera de 1942.

Os prisioneiros eram trazidos de comboio de toda a Europa ocupada pelos alemães, chegando a Auschwitz-Birkenau diariamente. Na chegada ao campo, os prisioneiros eram separados em dois grandes grupos – aqueles marcados para a exterminação imediata, e os que fiavam registados como prisioneiros. O primeiro grupo, cerca de três quartos do total, era levado para as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau em questão de horas; este grupo incluía todas as crianças, todas as mulheres com crianças, todos os idosos, e todos aqueles que, após uma breve e superficial inspecção pelo pessoal das SS, não se mostravam em condições de trabalhar.


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Contudo, existiam crianças prisioneiras em Auschwitz

Cerca de 700 crianças foram libertadas do campo de Auschwitz pelas tropas soviéticas em Janeiro de 1945:

Logo após a libertação, a 27 de Janeiro de 1945, crianças sobreviventes do campo de Auschwitz saem das barracas das crianças [children's barracks]:

Pintura Mural na parede esquerda da área comum da barraca das crianças de Auschwitz-Birkenau:



Pintura Mural na parede direita da área comum da barraca das crianças de Auschwitz-Birkenau:



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No Jornal Seattle Catholic - Por Matthew M. Anger


Parteira em Auschwitz

A história de Stanislawa Leszczynska




[Tradução minha]

O texto seguinte é uma versão resumida de um estudo do professor polaco Maciej Giertych que fornece alguns sinais dos horrores que católicos polacos e católicos de toda a Europa, sofreram durante a Segunda Guerra Mundial. Infelizmente, tais testemunhos – apesar de numerosos – são geralmente negligenciados pelos meios académicos e pelos órgãos de comunicação social.


A escravatura nas fábricas da Alemanha nazi

Auschwitz possuía todo o tipo de instalações, tais como dormitórios, escritórios, cozinhas e latrinas. Tinha também uma "secção de doentes" onde, em condições atrozes, prisioneiros doentes eram observados por médicos que eram eles próprios prisioneiros. Quem não parecesse poder vir a melhorar era morto. Desta forma, os médicos estavam constantemente a esconder situações mais complicadas falsificando registos para permitir uma estadia mais longa àqueles que de outra forma seriam mandados para o crematório. Quase todos os sobreviventes de Auschwitz sofriam de febre tifóide, uma doença que qualificava os prisioneiros para serem liquidados, mas que nunca era colocada nos relatórios graças à coragem dos médicos. Estavam a arriscar a vida porque o castigo para a quebra de qualquer regra no campo de concentração era a morte. Auschwitz tinha também uma "maternidade" [maternity-ward]. Muitas das mulheres que chegavam ao campo estavam grávidas. Eram necessárias para o trabalho; os seus bebés não eram. Uma das parteiras que trabalhava na maternidade era Stanislawa Leszczynska.


A Vida de Stanislawa
Stanislawa Zambrzyska nasceu em 1896, casou com Bronislaw Leszczynski em 1916 e juntos tiveram dois filhos e uma filha. Em 1992, diplomou-se numa escola para parteiras e começou a trabalhar nos distritos mais pobres de Lodz. Na Polónia anterior à Guerra, os partos eram normalmente feitos em casa. Stanislawa estava sempre disponível, percorrendo muitos quilómetros até às casas das mulheres que ajudou a dar à luz. Os seus filhos recordam que ela trabalhava muitas vezes durante a noite mas nunca dormia durante o dia.

Depois da Guerra, ela voltou à sua profissão de parteira em Lodz. O seu marido tinha sido morto na revolta dos polacos de Varsóvia contra as tropas alemãs em 1944, mas todos os seus filhos sobreviveram e, inspirados pelo exemplo da sua mãe, tornaram-se médicos. Stanislawa sustentou a educação dos filhos, ganhando o sustento da família através de um trabalho dedicado ao nascimento de crianças.

Em Março de 1957, já próxima da reforma, foi-lhe organizada uma recepção para comemorar os seus 35 anos de profissão. O seu filho. Dr. Bronislaw Leszczynski, lembrou-lhe que antes da recepção alguém lhe poderia fazer perguntas sobre Auschwitz. Até essa altura, ela não tinha dito nada sobre o seu trabalho no campo de concentração. O filho começou a tirar notas e mais tarde, durante a recepção quando todos os discursos tinham acabado, ele levantou-se e contou a história da sua mãe. O que se segue é retirado de Maternal Love of Life [O Amor Maternal da Vida]: Texts About Stanislawa Leszczynska, edited by Bishop Bejz, 1988.


Introdução ao Inferno

Stanislawa foi presa em Lodz a 18 de Fevereiro de 1943, com a sua filha e os dois filhos. Os filhos foram enviados para o campo de trabalho de Mathausen e Gusen para trabalhar em pedreiras. Ela e a filha, Sylvia, foram enviadas para Auschwitz onde chegaram a 17 de Abril de 1943. Foram-lhes atribuídos os números 41335 e 41336, tatuados nos antebraços. Ficariam como lembranças do campo.
Foram-lhes retirados todos os haveres, despidas, raparam-lhes o cabelo, e foi-lhes dado os uniformes do campo – fatos listrados e alguma roupa interior. Sylvia recorda que recebeu dois chinelos do pé esquerdo e umas cuecas. Toda a roupa estava infestada de piolhos. Stanislawa passou dois anos nas instalações das mulheres de Auschwitz, trabalhando como parteira em três blocos. As "secções de doentes" em todas elas eram iguais: barracas de madeira vazias com 40 metros de comprimento aquecidas por um único aquecedor de tijolo. Como o campo estava situado numa zona baixa, as barracas eram frequentemente inundadas por 5 a 8 centímetros de água. Dentro das secções de doentes existiam 3 camadas de tarimbas, alinhadas em ambos os lados do edifício. Cerca de três ou quatro mulheres dormiam ao mesmo tempo nas tarimbas cobertas de porcaria. Os "colchões" de palha infestados de insectos, tinham há muito sido desfeitos e pouco conforto proporcionavam. A maior parte das mulheres eram deixadas morrer em nada mais que pranchas de madeira.

Stanislawa lembra as condições que os prisioneiros doentes tinham de enfrentar: "No Inverno, quando as temperaturas eram muito baixas, formavam-se pendentes de gelo no teto provenientes da respiração e do suor – varas prateadas umas atrás das outras. Quando, ao fim da tarde, se acendiam as luzes, cintilavam graciosamente. Pareciam um grande candelabro de cristal. Mas sob estes pendentes de gelo, dormiam pessoas e mulheres doentes davam à luz".

O lugar junto ao aquecedor de tijolo, diz Stanislawa, "era o único sítio para os partos, porque nenhuma outra... acomodação para esse fim estava disponível. O forno só era aceso algumas vezes durante o ano... Trinta tarimbas [estrados de madeira para dormir] perto do forno constituíam a suposta maternidade".

Stanislawa continua a descrever a miséria da vida no campo: "Geralmente o bloco estava dominado por infecções, fedor e todos os tipos de insectos. Os ratos eram abundantes… As vítimas dos ratos não eram só as mulheres doentes mas também os recém-nascidos". Havia em média 1000 a 1200 doentes em cada secção de doentes. Destes, pelo menos uma dúzia morria todos os dias.


"Nestas condições", explica Stanislawa, "o destino das mulheres em trabalho de parto era trágico, e o papel da parteira extremamente difícil. Não havia antisépticos, roupas, e não havia medicamentos a não ser uma pequena quantidade de aspirina. A comida consistia principalmente de verduras podres cozidas". Inicialmente, Stanislawa teve de se haver sozinha, com a ajuda ocasional da sua irmã mais nova. "Os médicos alemães do campo - Rhode, Koenig e Mengele – não podiam, evidentemente, 'manchar' as suas vocações médicas a ajudar os não-alemães… "Mais tarde, foi ajudada por médicas que também eram prisioneiras. Como prova da profunda humildade de Stanislawa, ela pouco ênfase deu ao seu trabalho extraordinário. Em vez disso, falou da "grandeza dos médicos, da sua devoção, [a qual] ficou gravada nos olhos daqueles que, atormentados com o cativeiro do sofrimento, nunca mais voltarão a falar... Os médicos não trabalhavam lá por fama, aprovação, ou para a concretização das suas ambições profissionais. Todos estes motivos eram postos de lado. Ficava apenas o dever médico de salvar vidas em todos os casos e situações, combinado com a compaixão pelo sofrimento humano".

A doença que afligia a maior parte dos prisioneiros era a disenteria. O tifo também varreu o campo e, por uma vez, Stanislawa adoeceu dessa doença. Ela conta que "o incidente da febre tifóide foi, na medida do possível, escondida do Lagerarzt [o médico SS do campo] escrevendo habitualmente na lista dos doentes que o enfermo tinha 'gripe', porque os doentes com febre tifóide eram imediatamente liquidados...".


Pequenos Milagres entre a Imundície

Durante o seu cativeiro [em Auschwitz], Stanislawa ajudou a dar à luz 3,000 bebés. Mas havia uma coisa ainda mais extraordinária do que ela tentar fazê-lo no meio de condições tão desfavoráveis. Como explicou ao filho, o médico SS do campo deu-lhe ordens para ela fazer um relatório das infecções e das taxa de mortalidade das mães e das crianças. Ela respondeu, "Não tenho um único caso de morte, nem entre as mães nem entre os recém-nascidos". A resposta do médico SS foi um olhar de incredulidade. "Ele disse que mesmo nas melhores clínicas das universidades alemãs havia tais casos de sucesso. Nos seus olhos vi ódio e inveja". De uma forma auto-depreciativa, Stanislawa atribuiu isto ao facto de que "os organismos mal nutridos eram um meio demasiado árido para as bactérias". Contudo, as suas crianças e os seus amigos prisioneiros atribuem este registo miraculoso a causas que ultrapassam o natural.


Maternidade planeada em Auschwitz
Na imagem à esquerda - Pintura Mural de querubins nos lavatórios do bloco 7 de Auschwitz.

Quando se aproximava a altura do parto, a já esfomeada mãe tinha de abdicar da sua ração de pão durante um tempo de forma a obter um lençol que seria usado para fazer fraldas e roupa para o bebé. Nem é preciso acrescentar que os nazis não forneciam estas coisas. Para piorar as coisas, não havia água corrente nas barracas o que tornava a lavagem de fraldas uma experiência arriscada, porque aos prisioneiros não era permitido moverem-se livremente no campo. Qualquer lavagem teria de ser feita sub-repticiamente. Por último, não existia comida ou leite a mais de reserva para os bebés. Mas a negligência pura e simples aparentemente não eram suficientes para os administradores do campo. Deste modo, prisioneiros criminosos eram empregues em desfazer-se dos incómodos bebés.

Até Maio de 1943, todas as crianças nascidas em Auschwitz eram afogadas num barril de água. Esta actividade eram executadas pela Schwester [irmã] Klara, uma parteira alemã que fora presa por infanticídio. "Na qualidade de criminosa profissional e por isso proibida de praticar a sua profissão", diz Stanislawa, "foi-lhe confiada uma função para a qual estava melhor talhada". Mais tarde, Klara foi ajudada por uma prostituta alemã, a ruiva Schwester Pfani. "Depois de cada parto, as mães eram capazes de ouvir o característico gorgolejar e o chapinhar da água" resultado do afogamento dos bebés.

A situação alterou-se um pouco em Maio de 1943. Os bebés com aspecto ariano, com olhos azuis e cabelo claro, eram poupados ao tratamento da irmã Klara e enviados para um centro na cidade de Naklo para serem "desnacionalizados". Aí, ou eram colocados em orfanatos ou em casas de casais alemães.

"Na esperança de no futuro ser possível recuperar estas crianças, para as trazer para as suas mães", explica Stanislawa, "arranjei um método de marcar as crianças com uma tatuagem que não seria reconhecida pelos guardas SS. Muitas mães foram confortadas pelo pensamento de que algum dia seria capaz de encontrar a sua felicidade perdida". Entretanto, o destino das que ficaram no campo pouco melhorou. As crianças morriam lentamente de má nutrição. Entre as inúmeras tragédias testemunhadas por Stanislawa, destaca-se uma em particular.
Na imagem à esquerda - Esboço de David Olère, de 1946, mostrando mulheres e crianças imediatamente antes de serem exterminadas na câmara de gás do crematório III.

"Recordo perfeitamente uma mulher de Vilno enviada para Auschwitz por ter ajudado os partisans. Imediatamente a seguir a ter dado à luz uma criança, o seu número [de prisioneira] foi chamado... Eu fui tentar desculpá-la. Isto não ajudou mas apenas redobrou a ira [dos alemães]. Compreendi que ela tinha sido seleccionada para o crematório. Ela envolveu a criança num pedaço sujo de papel, apertou-o contra o peito... Os seus lábios moviam-se silenciosamente. Tentou cantar uma cantiga ao seu bebé, como muitas mães faziam ali, murmurando às suas crianças várias canções de embalar para os tentar compensar do frio cortante da fome e do sofrimento. Contudo, não teve a força... ela foi incapaz de emitir um som... apenas lhe caíam grandes lágrimas abundantes das pálpebras, escorrendo pelas suas faces extraordinariamente pálidas e caindo na cabeça da pequenina criança condenada à morte."

Stanislawa Leszczynska termina a breve mas terrível história da sua vida com as seguintes observações: "todos os bebés nasceram vivos. A sua finalidade era viver". Das crianças que ficaram em Auschwitz, "dificilmente trinta terão sobrevivido ao campo. Várias centenas foram enviadas para Naklo... Cerca de 1,500 foram afogadas por Schwester Klara e Pfani. Mais de 1,000 morreram de frio e de fome". Estes números cobrem o período de Abril de 1943, quando Stanislawa chegou, até à libertação do campo em Janeiro de 1945.


Outros testemunhos

Em vista das reservas de Stanislawa, temos de confiar em membros da família e em camaradas da prisão para nos dar uma imagem mais completa das suas actividades heróicas. O seu filho. Bronislaw, conta que à sua chegada do campo ela não tentou esconder o seu documento de identidade de parteira. "Com o cartão na mão, ela barrou a passagem a um médico alemão no campo, o que era em si mesmo um acto de coragem, punível com a morte. Mostrou-lhe o documento... Ele meditou durante alguns momentos e decidiu que ela iria exercer as funções de parteira na chamada 'maternidade'. Aí encontrou a já mencionada Schwester Klara que a informou que cada criança nascida seria declarada um "nado-morto", ficando ela com a responsabilidade de se desfazer do corpo. Bronislaw continua, "mais tarde bateu na cabeça da minha mãe... por esta não ter seguido as suas instruções... A minha mãe foi então chamada ao médico SS e este ordenou-lhe que praticasse infanticídios se quisesse sobreviver. O médico SS ficou surpreendido quando esta mulher pequena e fraca, que ele podia esmagar com a bota, lhe replicou: 'Não, nunca.' Porque é que ele não a matou na altura, ninguém sabe."
O filho de Stanislawa recorda o encontro da sua mãe com o famoso Dr. Mengele (que executou experiências médicas em prisioneiros). Não obstante o ambiente aterrorizador, a descrição seguinte não está isenta de humor. "Quando a minha mãe se opôs a Mengele, que lhe ordenara que matasse os bebés nascidos em Auschwitz, ele ficou furioso. Ao descrever a cena, a minha mãe disse: 'Eu só vi as suas grandes botas a andar para a frente e para trás… e ouvi-o gritar: 'Befehl ist befehl' [uma ordem é uma ordem]. "Ao recordar estas palavras tantos anos depois, percebi que sendo a minha mãe muito baixa e tendo o hábito de olhar para baixo quando estava a pensar nalguma coisa... ficou de olhos baixos a ver as botas de Mengele a andarem nervosamente em frente dela… Estaria este terrível assassino (no fim de contas ele era um médico) a tentar justificar a sua ordem para matar bebés recém-nascidos? Em qualquer caso, nem nessa altura nem depois, levantou ele a sua mão homicida contra a minha mãe." Noutra ocasião, o Dr. Mengele entrou na sala da maternidade. Vendo Stanislawa ocupada com os partos, disse: "Mutti [Mãe], você ganhou uma data de dinheiro hoje. Tem de pagar uma cerveja." "Como é que se pode compreender esta piada?" pergunta Bronislaw. "Sem dúvida que Mengele sabia que as prisioneiras em sofrimento tratavam Stanislawa Leszczynska como uma mãe e referiam-se normalmente a ela como 'Mãe'. Se conscientemente ou inconscientemente, Mengele se referia a isto, ao mesmo tempo ele mostrava algum respeito pelo amor maternal e pela força moral que Stanislawa personificava."

Uma das mais afortunadas prisioneiras, Maria Saloman, dá-nos as suas impressões sobre Stanislawa: "Durante semanas nunca teve uma oportunidade para se deitar. Às vezes sentava-se perto de uma paciente ao pé do forno, dormitava por um momento, mas logo se levantava e corria para uma das mulheres que gemiam... Quando as Sra. Leszczynska se aproximou de mim pela primeira vez, eu soube que tudo iria correr bem. Não sei porquê, mas era assim. A minha bebé conseguiu sobreviver durante três meses no campo, mas parecia condenada a morrer de fome. Eu estava totalmente sem leite. A 'Mãe', de alguma forma, encontrou duas mulheres para amamentarem a minha bebé, uma estoniana e uma russa. Até hoje ainda não sei a que preço [ela conseguiu isso]. A minha filha Liz deve a vida a Stanislawa Leszczynska. Não consigo pensar nela sem que as lágrimas me venham aos olhos".

Stanislawa mostrava tanto bom senso como coragem. Uma sobrevivente conta como ela conseguia obter água e, quando era necessário, uma mistura de ervas que usava para lavar os bebés. Tendo de usar a mesma água para todos os bebés, Stanislawa lavava primeiro as crianças saudáveis e depois as enfermas para não contaminar as primeiras. Kazimera Bogdanska explicou que não era capaz de amamentar a sua pequena filha. Todavia, Stanislawa disse-lhe que mesmo assim devia dar à criança um seio vazio "para que as glândulas não parassem de produzir leite. A Mãe tinha razão", diz Kazimera, "Que sorte que tive em ter acreditado nela. Quando chegou a liberdade em 1945 e fui levada para um verdadeiro hospital (porque eu estava com febre tifóide) o médico deixou-me continuar a dar à minha filha o meu peito vazio. Após algum tempo o leite regressou. A minha filha começou a ganhar peso... Começou a engordar e a ficar com as faces rosadas... A sabedoria da Mãe e a fé salvaram a minha única filha".
Na imagem à esquerda - Esboço de David Olère, de 1947, mostrando a selecção de uma mulher e dos seus filhos para as câmaras de gás.

Acima de tudo era a grande piedade de Stanislawa que a sustentava e que ela sempre tentou transmitir aos outros. Segundo Maria Saloman: "Antes de fazer um parto, Stanislawa fazia o sinal da cruz e rezava. Murmurava uma oração na qual pedia não apenas ajuda e esperança, mas onde encontrava força para a sustentar no seu trabalho desumano. Só trabalhava para nós, dia após dia, noite após noite. Sem um momento de descanso, sem nenhuma substituta". Uma das médicas, Elzbieta Pawlowska, lembra-se que Stanislawa "era capaz de organizar as suas preces de forma que as outras participassem... Devíamo-nos sentar nas tarimbas. A 'Mãe' começava uma oração e nós devíamos cantar. Cantávamos muito baixinho. Não era possível de outra forma. Eram apenas poucos momentos – cerca de 15 a 30 minutos – mas tudo estava em paz. Era uma atmosfera que ela conseguia criar. Lembro-me de mulher russas de 'maternidades' próximas que vinham participar".

Maria Oyrzynska disse que um dia, enquanto estava a ajudar a Stanislawa num parto, esta pegou no bebé, lavou-o, embrulhou-o num papel e num cobertor e disse: "Agora o mais importante. Vamos baptizar a criança". "Eu era a madrinha" recorda Maria, "era o meu primeiro afilhado... Stanislawa deitou alguma água na cabeça do bebé e disse: 'Eu te baptizo Adam, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Ámen'. Como madrinha levei a minha responsabilidade muito a sério e tomei conta de Adam. Tendo em conta as condições do campo ele viveu ainda bastante tempo. Três semanas inteiras".


Devoção Crescente à Parteira Polaca

Desde que faleceu em 1974, tem havido uma devoção crescente a Stanislawa Leszczynska na Polónia. São organizadas peregrinações à sua campa, enquanto alguns materiais estão a ser compilados como prova para o seu processo de beatificação. Ela foi celebrada no "Cálice da Vida", oferecido ao famoso santuário da Padroeira Czestochowa no mosteiro de Jasna Gora por mulheres polacas em Maio de 1982, e em 1983 a Escola de Obstetrícia de Cracóvia recebeu o seu nome em sua honra. Muita gente confirmou os pedidos obtidos através da sua intercessão, particularmente os ligados a problemas com partos. Como o Prof. Giertych conclui, "A vida de Stanislawa Leszczynska é a de uma mãe exemplar e de uma parteira dedicada. Deste modo, ela é particularmente apropriada para ser a patrona da luta da vida contra os assassinos de crianças que, tal como nos campos de concentração, continuam a fazer carreira no seu negócio mortal".



Imagem de Stanisława Leszczyńska no interior da Igreja de Santa Anne em Wilanów próximo de Varsóvia [Inside the St. Anne's Church in Wilanów near Warsaw. Polska Służebnica Boża, położna w obozie koncentracyjnym Auschwitz-Birkenau].

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