Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma
via Luís Graça & Camaradas da Guiné de Luís Graça em 24/03/09
Guiné > Brá > 29 de Junho de 1973, o Dia do Comando > Cerimónia de imposição de crachás aos novos comandos do Batalão de Comandos Africanos, na presença do General Spínola. Foto de Voz da Guiné, nº 203, Separata, 30 de Junho de 1973, dedicada ao Dia do Comando > Legenda: "O Major Almeida Bruno, manifestamente satisfeito, ao impor novas divisas um dos seus 'comandos' Nesse dia, o Batalhão de Comandos da Guiné passou a ter mais 2 Tenentes, 1 Alferes, 12 Primeiro-Sargentos, 3 Segundo-Sargentos e 24 Furriéis. Foto da autoria do fotógrafo Álvaro Geraldo.
Imagem gentilmente cedida por Magalhães Ribeiro (2006), nosso camarada e amigo da Tabanca de Matosinhos.
Guiné > Bissau > Voz da Guiné > Separata do nº 203, de 30 de Junho de 1973, dedicada ao Dia dos Comandos (1). Mais fotos, na 3ª página, do
1. Comentário, com data de ontem, de Virgínio Briote, nosso co-editor, ao poste P4607 (*)
Caros Carlos Marques dos Santos, Torcato, Artur Conceição, Jorge Picado e mais Camaradas:
Obrigado pelo vosso incentivo.
Hoje passei a tarde com o Amadu. Soube mais dele,vou-o sabendo aos poucos.É uma alma muito grande. Nasceu oficialmente em 1940. Mas, na verdade, veio ao mundo de Bafatá, em 1938, filho de pai de Fulamori e de mãe de Boké, ambos da Guiné-Conacri.
Tem duas mulheres a viver em Bafatá e dez filhos ao todo. Como foi preso e sujeito a sevícias três vezes, tem receio de regressar à cidade natal. Aqui, não lhe reconhecem o posto de Alferes que usou, vezes e vezes, durante a guerra, como soldado ou comandando grupos nas matas de Madina, do Oio, da Coboiana, até na cidade de Conacri e nas matas de Kumbamory.
Três marcas no corpo e muitas feridas na alma. Nada de reconhecimentos, nem um pão para a boca, vive do trabalho das duas filhas, aqui, em Odivelas, onde vivem quase todos os nossos Camaradas africanos. É um homem desiludido e amargurado. Não pode deixar de o ser. Portugal recusa-o a aceitar. Nem o considera militar português, e temente da instabilidade na terra dele, Amadu receia regressar.
Os comandos africanos ainda não são bem vistos, ao contrário de nós, europeus, que nos recebem [,os guineenses], pelos vistos, de braços abertos. Vou levar o trabalho até ao fim (**). Depois, reformo-me também da guerra.
Um muito obrigado a todos.
vb
2. Comentário de L.G.:
Há tempos (**), o vb mandou-nos, a título informativo, uma amostra (ou um excerto) do índice (provisório) do livro que tomamos a liberdade de reproduzir, para informação do dos leitores... Os amigos e camaradas da Guiné serão seguramente dos primeiros a comparecer ao lançamento do livro do nosso camarada guineense Amadu Djaló, um homem abandonado e amargurado que precisa da nossa solidariedade (que já lhe está ser dada, na pessoa do vb, o nosso querido co-editor que está praticamente a 100% a trabalhar na fixação e revisão do texto manuscrito do Amadu e que já nos prometeu, para tristeza nossa, que depois disso se vai "reformar também da guerra"... Tristeza por que aquela expressão pode ter também um outro significado, o da despedida do nosso blogue... Ou pode pura e simplesmente querer dizer: estou em paz com a Guiné, saldei as minhas contas, exorcizei os meus fantasmas, fiz o luto... Um dia vai acontecer-nos isso a todos nós: afinal, já andamos a fazer 'blogoterapia' há quatro anos, desde Abril de 2005...
Imagem gentilmente cedida por Magalhães Ribeiro (2006), nosso camarada e amigo da Tabanca de Matosinhos.
Guiné > Bissau > Voz da Guiné > Separata do nº 203, de 30 de Junho de 1973, dedicada ao Dia dos Comandos (1). Mais fotos, na 3ª página, do
1. Comentário, com data de ontem, de Virgínio Briote, nosso co-editor, ao poste P4607 (*)
Caros Carlos Marques dos Santos, Torcato, Artur Conceição, Jorge Picado e mais Camaradas:
Obrigado pelo vosso incentivo.
Hoje passei a tarde com o Amadu. Soube mais dele,vou-o sabendo aos poucos.É uma alma muito grande. Nasceu oficialmente em 1940. Mas, na verdade, veio ao mundo de Bafatá, em 1938, filho de pai de Fulamori e de mãe de Boké, ambos da Guiné-Conacri.
Tem duas mulheres a viver em Bafatá e dez filhos ao todo. Como foi preso e sujeito a sevícias três vezes, tem receio de regressar à cidade natal. Aqui, não lhe reconhecem o posto de Alferes que usou, vezes e vezes, durante a guerra, como soldado ou comandando grupos nas matas de Madina, do Oio, da Coboiana, até na cidade de Conacri e nas matas de Kumbamory.
Três marcas no corpo e muitas feridas na alma. Nada de reconhecimentos, nem um pão para a boca, vive do trabalho das duas filhas, aqui, em Odivelas, onde vivem quase todos os nossos Camaradas africanos. É um homem desiludido e amargurado. Não pode deixar de o ser. Portugal recusa-o a aceitar. Nem o considera militar português, e temente da instabilidade na terra dele, Amadu receia regressar.
Os comandos africanos ainda não são bem vistos, ao contrário de nós, europeus, que nos recebem [,os guineenses], pelos vistos, de braços abertos. Vou levar o trabalho até ao fim (**). Depois, reformo-me também da guerra.
Um muito obrigado a todos.
vb
2. Comentário de L.G.:
Há tempos (**), o vb mandou-nos, a título informativo, uma amostra (ou um excerto) do índice (provisório) do livro que tomamos a liberdade de reproduzir, para informação do dos leitores... Os amigos e camaradas da Guiné serão seguramente dos primeiros a comparecer ao lançamento do livro do nosso camarada guineense Amadu Djaló, um homem abandonado e amargurado que precisa da nossa solidariedade (que já lhe está ser dada, na pessoa do vb, o nosso querido co-editor que está praticamente a 100% a trabalhar na fixação e revisão do texto manuscrito do Amadu e que já nos prometeu, para tristeza nossa, que depois disso se vai "reformar também da guerra"... Tristeza por que aquela expressão pode ter também um outro significado, o da despedida do nosso blogue... Ou pode pura e simplesmente querer dizer: estou em paz com a Guiné, saldei as minhas contas, exorcizei os meus fantasmas, fiz o luto... Um dia vai acontecer-nos isso a todos nós: afinal, já andamos a fazer 'blogoterapia' há quatro anos, desde Abril de 2005...
LIVRO 1
Libertação
Grupo Fantasmas
Índice ou Temas
Traços Gerais
Carta de condução
Reunião de ajudantes condutores
Contacto com o Governador-Geral da Guiné
Audiência com Sua Excelência
Concentração na Administração do Conselho
1ª Incorporação no Exército Português - Ano de 1959
Viagens ao Senegal
Terminadas as viagens ao Senegal
Circuncisão
Incorporação no Exército Português - Ano 1960/61
Meu tio-avô …..
Tratamento medicamentoso
O Mercado Municipal
Ida à Administração Civil
Regresso da Administração Civil
Dia seguinte e intervenção do Tenente Carrasquinha
A minha incorporação no Exército Português – Ano de 1962
O 9 de Janeiro de 1962
O tocar da corneta
1º Contacto com o quartel
Escola de condução em Bissau
O 1º contacto com o capitão Simões
O 2º contacto com o capitão Simões
Correria do QG para o refeitório da B.A.C.
Concentração de todos os adidos
Passagem por porto de Inchudé
Porto de …
Bedanda
A 1ª saída em Bedanda
Uma granada espanhola
A ida para Cacine
Bedanda, nosso poiso
O meu destacamento para Cacine
A minha actividade em Cacine
A morte prematura de …
As minhas férias
Terminadas as férias em Bafatá e embarque para Bissau
Bolama à vista
Regresso de férias, partida de Catió para o porto de …
Novamente em Bedanda
Adeus Bedanda
Finalmente em Bissau
Farim, o meu destino
Regresso inesperado
A minha 1ª saída em Farim
A minha ocupação
A recolha de pelotões
A tabanca de Bricama
Atitude sensata do Comandante
Nova ida à tabanca de Bricama
O 1º ataque do PAIGC
(...)
______
Nota de L.G.:
(*) 22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote)
(**) Em 13 de Fevereiro último, o vb explicou-nos como lhe chegou às mãos este manuscrito:
"Um abraço do vb".
(**) Em 13 de Fevereiro último, o vb explicou-nos como lhe chegou às mãos este manuscrito:
"Fui contactado há tempos pelo Lobo do Amaral, Presodente da Associação de Comandos, para colaborar na revisão das memórias de um comando, natural de Bafatá. Na altura, embora no íntimo muito interessado, respondi que não me sentia em condições para tal projecto.
"Ontem, voltou à carga. Que a Associação de Comandos quer publicar em livro as memórias de um guineense que viveu os anos todos da guerra e que na Guiné conheceu os governos de Silva Tavares até Spínola.
"Eu quero fechar a minha vida na Guiné e não posso. Estive hoje na Associação de Comandos com o Presidente. Passou-me para as mãos as memórias do Amadú Djaló. Desde 1958 até 1974. Desde soldado até alferes. Toda uma vida de um guineense qque se afirma tão português como muitos de nós. Que escreve em crioulo, ou melhor num misto que ainda não consegui perceber bem. E de que vos mando uma amostra, uma primeira abordagem que comecei esta tarde a fazer.
"Os olhos doem-me de perceber a escrita manual do Amadú e de escrever para um português perceptível, respeitando o estilo da escrita do autor.Foi meu camarada nos comandos [,em Brá, 1965/67,], embora nunca no grupo a que pertenci. Pertenceu ao grupo do Saraiva, depois ao do Luís Rainha. Mais tarde esteve em Fá Mandinga, na formação dos comandos africanos.
"Cumbamori e Conacri fizeram parte do itinerário de vida do Amadú. Penso que vamos ter aqui uma obra que vai abrir o blogue aos combatentes africanos que estiveram do nosso lado.
"Ontem, voltou à carga. Que a Associação de Comandos quer publicar em livro as memórias de um guineense que viveu os anos todos da guerra e que na Guiné conheceu os governos de Silva Tavares até Spínola.
"Eu quero fechar a minha vida na Guiné e não posso. Estive hoje na Associação de Comandos com o Presidente. Passou-me para as mãos as memórias do Amadú Djaló. Desde 1958 até 1974. Desde soldado até alferes. Toda uma vida de um guineense qque se afirma tão português como muitos de nós. Que escreve em crioulo, ou melhor num misto que ainda não consegui perceber bem. E de que vos mando uma amostra, uma primeira abordagem que comecei esta tarde a fazer.
"Os olhos doem-me de perceber a escrita manual do Amadú e de escrever para um português perceptível, respeitando o estilo da escrita do autor.Foi meu camarada nos comandos [,em Brá, 1965/67,], embora nunca no grupo a que pertenci. Pertenceu ao grupo do Saraiva, depois ao do Luís Rainha. Mais tarde esteve em Fá Mandinga, na formação dos comandos africanos.
"Cumbamori e Conacri fizeram parte do itinerário de vida do Amadú. Penso que vamos ter aqui uma obra que vai abrir o blogue aos combatentes africanos que estiveram do nosso lado.
"Um abraço do vb".
2 comentários:
A violência eliminou
Destruiu crianças inocentes,
Jovens sonhadores,
Separou famílias
E só trouxe dor e revolta...
É preciso eliminar a violência
Não só das guerras,
Mas também dos Corações.
É uma cruel violência
A falta da escola,
O pobre não ter direito a moradia,
A criança não ter sobrenome,
A Saúde fazer adoecer
E o salário ser de fome...
O envio de mísseis sobre nações
E a má distribuição de renda
São diferentes formas da violência.
Quem quer promover a Paz:
Respeita o Próximo,
Luta pela Igualdade,
Perdoa ao que ofende
E age com Solidariedade...
A violência é eliminada
Quando há Justiça para todos;
Quando Deus está nos corações
E a dignidade é restaurada.
Vamos respeitar ao ser humano
E agir com o Amor Restaurador
Vamos eliminar as armas
E em cada canto plantar uma flor...
Eu quero a paz no mundo,
Mas não a paz que vem da agressão
E nem do silêncio da covardia.
Quero a paz que vem dos corações,
Que se entendem pelos laços do amor,
Que gera vida e Fraternidade,
Que une os que pensam diferente
E que nos faz sermos tratado como gente....
Trabalhando pela paz, penso que faremos um mundo melhor, com mais amor... eu e você...
Tentemos pelo menos, cada um fazendo um pouco, no final, somando-se os esforços a guiné-bissau será um lugar bem melhor para deixarmos aos nossos filhos... vamos começar...
Faça algo pela PAZ!!!
Muito agradeço a Tonton Bandé o enriquecimento deste blogue com o envio do bonito poema "A violência eliminou / destruiu crianças inocentes.
Rui Moio
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