Globalidades...
Há quem compre revistas de decoração para sonhar com casas que nunca vai ter. Eu vejo cadernos de emprego de jornais estrangeiros para imaginar vidas que jamais terei. Imagino-me num estúdio de design em Barcelona, num jornal em Londres, numa Televisão no Brasil.
(há anos que o faço, sabendo que me falta tudo, a começar na coragem, para começar de novo noutro lado qualquer).
Deve ser por imaginar cenários de vida que tenho uma enorme admiração por quem parte. Por quem recomeça. Por quem troca a (aparente…) paz da pátria e o quentinho da família e dos amigos pelo desassossego de um novo futuro. Muitas vezes essa opção é forçada – a História portuguesa é uma sucessão de histórias de quem parte à procura do que não tem.
Mas quem me seduz e fascina é quem parte mesmo sem ser forçado a isso. Quem parte porque se sente capaz. Quem parte por sentir que pertence ao Mundo, e não apenas a esta cantinho. Hoje lembrei-me disso porque o meu cunhado fez anos, e ele faz parte, com a minha irmã, desse lote de pessoas que ousou partir (e lá está, um blog, ainda que haja quem não entenda, é um espaço pessoal onde fazemos e dizemos literalmente o que queremos e não há satisfações a dar...).
... Mas também me lembrei por estar a ver e ter ficado a pensar, no fim-de-semana passado, no El Pais, neste anúncio que aqui reproduzo: escrito em alemão, num jornal espanhol, pretende contratar quem mande num braço ibérico.
Quando eu sonhava com outros destinos, era tudo mais simples: empresa espanhola contratava para Espanha, empresa inglesa contratava para Grã-Bretanha, empresa alemã para a Alemanha.
Até esse romantismo se perdeu: hoje, um tipo responde a um anúncio espanhol e acaba contratado por uma empresa francesa que o manda a Lisboa uma semana por mês para despedir compatriotas...
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