QUESTÕES DE USUFRUTO

QUESTÕES DE USUFRUTO

via Da Literatura by Eduardo Pitta on 2/5/08

O Eleven — assim chamado por ser propriedade de onze sócios, entre eles o Dr. José Miguel Júdice —, construído de raiz no Jardim Amália Rodrigues, a norte do Parque Eduardo VII, ocupa terreno camarário. Ontem ficou a saber-se o valor da renda mensal do seu usufruto: quinhentos euros. Quinhentos euros é menos do que custam certos vinhos da lista (uns quantos custam mais de dois mil). No Eleven, cuja vista domina Lisboa até ao rio, quinhentos euros corresponde a uma refeição parcimoniosa para três pessoas (em datas especiais com menu fixo é mais barato). OK. Quando essa renda foi fixada, ainda António Costa não era presidente da Câmara de Lisboa. Mas agora é. Terá sido o vereador José Sá Fernandes a fazer esta espantosa revelação. Assim não vamos lá.


Uma das moradas incontornáveis de Paço d’Arcos continua a ser Os Arcos, aberto desde 1966. Passou de moda, já não tem uma clientela predominantemente formada por ministros e diplomatas, como tinha antes do 25 de Abril, mas atravessou incólume os solavancos da revolução. É hoje um restaurante de classe média, bem frequentado, com perfil tradicional, e serviço irrepreensível, onde se come bem a trinta euros por boca. Ocupando uma área superior a cem metros quadrados, dispõe de sala para fumadores: a ampla varanda fechada que dá para o rio. No sábado passado, ao jantar, entre as 21:10h e as 23:50h, a área de fumadores teve uma mesa ocupada por duas pessoas. Parece que tem sido assim desde que a Lei do Tabaco entrou em vigor. Em contrapartida, não havia um lugar vago nas várias salas onde o fumo é interdito. Os jornais deviam ser mais cautelosos quando publicam como “notícias” os recados de certas agências que apregoam fuga de clientes como consequência da Lei do Tabaco. Entre Lisboa e Cascais (circuito que inclui uma deriva para a Pontinha), tenho visto exactamente o contrário. Mas também é verdade que eu não frequento os bares da zona histórica do Porto...