Viver no Brasil
via Um portuga em apuros nos trópicos by Capitão-Mor on 1/31/08
Estranhamente.... não estranhamente, talvez surpreendentemente, tenho recebido emails de portugueses, ainda em Portugal, que querem “dar o salto” para fora e me colocam algumas questões práticas sobre a vida no Brasil. Ou porque descobriram este blog, pela crise instalada em Portugal ou porque estarão afectados por alguma febre dos trópicos. Também tenho lido algum interesse alguns depoimentos de portugueses residentes no Brasil em alguns sites e foruns na internet. No entanto, verifico que não existe um consenso. Uns dizem maravilhas e outros relatam experiências traumáticas.
Algumas coisas vou contando aqui ou deixando transparecer das minhas aventuras diárias e do meu dia-a-dia, mas obviamente as descrições de determinados aspectos ficam de fora. Assim, decidi resumir algumas informação prática.
Espero que estes dados sejam úteis a quem procura esclarecimento e escassas respostas nos consulados brasileiros. Se precisarem de mais informação, mandem e-mail que eu tento responder. Porém, gostaria de deixar claro que eu NÃO aconselho uma mudança para o Brasil, a menos que sejam pessoas dotadas de grande resistência psicológica, tenacidade, bons conhecimentos por cá ou que venham com muito dinheiro para investir e poder usufruir de uma vida tranquila. Sim, porque isto de viver no Brasil de chinelo no pé e a olhar para as beldades na praia, não passa de uma miragem.
Burocracias:
Ao contrário do que se possa pensar, a obtenção de visto permanente de residência é um processo moroso e complicado. Ele poderá ser obtido de diversos modos: casamento, paternidade de filho nascido em solo brasileiro, trabalho (quase impossível, a não ser que já venham por via de empresas nacionais presentes no país, investimento (que foi o meu caso) e aposentadoria.
Após duras batalhas com a inflexível burocaracia brasileira, talvez tenham a sorte de vos ser fornecido o almejado visto de residência que impede a obrigatoriedade de sair do Brasil a cada seis meses. Convém salientar que o levantamento do visto tem de ser efectuado num consulado brasileiro no exterior o que provoca despesas algo desnecessárias com passagens aéreas. Após a obtenção do visto, é atribuída a identidade de estrangeiro - RNE. O único documento que poderão ter sem o visto é o CPF - equivalente ao número de contribuinte - que é solicitado em diversas operações e funciona como uma espécie de segunda identidade.
Passo seguinte, abrir conta bancária. Missão impossível para todos aqueles que não possuem visto permanente. A única excepção será a abertura de conta para empresas, caso tenham algum negócio próprio. De qualquer modo, esta modalidade ainda tem sérias limitações. Evitem contrair empréstimo bancários no Brasil. A taxa de juro é de 11,25%.
Alojamento e despesas associadas:
O preço das casas varia muito conforme a região do país. Desenganem-se todos aqueles que pensam que os imóveis são ao preço da banana. Nas grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, um apartamento pode atingir preços proibitivos. No Nordeste, os preços são mais acessíveis mas existe uma especulação crescente, devido à demanada europeia por imóveis de segunda residência na região. Posso dar-vos como exemplo o apartamento que adquiri por aqui em 2004, custou-me cerca de 20.000 euros, vendi-o algum tempo depois, mas sei que neste momento, os apartamentos desse condomínio estão a ser vendidos por cerca de 40.000 euros.
O arrendamento, por outro lado, pode ser uma boa opção, tendo em conta os valores paraticados em Portugal. Com cerca de 300/400 euros consegue-se arrendar um apartamento confortável em bairro nobre. Deste modo, acabam por ter mais liberdade de acção, caso as coisas por aqui não corram da melhor forma.
No caso de possuirem imóvel próprio, terão que contar com o pagamento anual do IPTU, cujo valor varia consoante o preço e localização da casa. Este imposto pode ser parcelado ao longo do ano.
Gás/agua/electricidade. Estas depesas têm valores irrisórios. No caso de morarem em condominios verticais, o preço pode aumentar bastante porque o valor pode incluir alguns destes gastos, associados à manutenção de elevadores, piscinas, segurança e áreas de lazer.
Seguro da casa. Não e obrigatório. Muitos bancos oferecem quando se abre conta bancária.
Empregada. Aqui, elas recebem por norma um salário mínimo (150 euros) por uma jornada diária de oito horas. Empregadas internas são situação frequente e, nesse caso, terão que contar com alojamento e despesas de alimentação.
Salários:
Muito dificil dar números. Procurar trabalho assalariado no Brasil é missão quase impossível para cidadãos estrangeiros, por muitas qualificações profissionais que possuam. Num país, onde as taxas de desemprego são muito elevadas, existe um evidente proteccionismo das vagas disponíveis para brasileiros.
A esmagora maioria dos europeus residentes no país, envereda pela vertente empreeendedora e são proprietários dos seus próprios negócios que incidem principalmente na área do turismo, construção civil, imobiliário e comércio em geral.
Saúde:
Ter seguro de saúde é altamente aconselhado, mas pode ser uma despesa onerosa ao final do mês, visto que os valores variam consoante a faixa etária dos beneficiários. Quem opta pelo serviço público de saúde, arrisca-se a ficar dependente de serviços médicos precários e hospitais sobrecarregados.
Impostos:
È obrigatória a apresentação anual da declaração de imposto de renda. As fórmula de cálculo são diferenciadas, se comparadas com os sistemas europeus. Digamos que os impostos não são muito simpáticos com as empresas. Aliás, o Brasil está classificado como um dos países com taxa de impostos muito elevada, com uma arrecadação semelhante à dos países nórdicos. Infelizmente, os serviços públicos em nada condizem com a arrecadação feita.
Transportes/carro
Os tranportes públicos são eficientes e cobrem a totalidade das cidades e respectivas periferias. No entanto, será aconselhável adquirir veículo particular que dá uma maior liberdade de movimentos e segurança. O preços dos carros populares - fabricados no Brasil - são bastante acessíveis. Carros importados não aconselho, já que o imposto anual (IPVA) pode ser bastante elevado. Também será necessário, ir a uma delegação regional do DETRAN para tratar da equivalência da carta de condução.
Custo de vida (em geral):
Necessidades básicas (alimentos no supermercado, electricidade, água e outros) - é a grande vantagem de residir no Brasil. Valores muito acessíveis. Não será de estranhar, que nos últimos anos, diversos aposentados europeus tenham procurado o Brasil para residir a título permanente, apesar da contínua desvalorização do euro face ao real. Quando aqui cheguei, um euro quivalia a cerca 3.70 reais. Actualmente, o câmbio está na proporção de 2.62 reais por cada euro.
Cultura, luxos (cinemas, teatros, copos, jantares fora, concertos, etc...) - Em comparação com o rendimento médio dos brasileiros, poderei dizer que não são actividades muito baratas.
E se alguém se lembrar de mais algo relevante, diga que eu acrescento.
Para mais, é vir até cá e descobrir com os próprios olhos...
1 comentário:
Não sei se estou a repetir a mensagem enviada para outro blog que penso fazes tambem parte." um portuga em apuros".
Estou a viver em lisboa, e vou mudar-me para o Rio janeiro em março com a minha mulher e a minha filha.A minha mulher e carioca.
Vou com o intuito de investir, mas ainda não estou certo do que procuro.
Vou alugar uma casa, pois não vale a pena comprar por causa da taxa de juro.
Já solicitei a 2 meses o visto, por casamento, residencia.
na tua opinião, quais os cuidados devo ter antes de sair de Portugal?
Posso solicitar a dupla nacionalidade da minha filha no brasil?
Gsotava de trocar algumas ideias contigo por email.
pedror31_3@hotmail.com
Grande abraço
Pedro
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