O Franco do Sobreiro
É das mais ternas memórias que tenho de infância: a figura do "Franco do Sobreiro", corpo curvado, a rodar a sua roda de oleiro, olhando para nós com vagar, enquanto moldava o barro que eu depois via acabado e cozido ali ao lado.
Cresci e nunca mais lá voltei – a não ser, claro, quando fui pai (oportunidade mais que certa para voltarmos aos lugares onde fomos filhos...).
Há alguns anos levei então o António Maria ao "Franco do Sobreiro" – e apesar de um crescimento excessivo da obra e da transformação de todo o espaço numa Disneylândia rústica, confusa e muito virada a feira, deliciei-me a rever nos olhos do meu filho o mesmo fascínio que retinha da minha infância. Vemos nos olhos deles o que os nossos olhos guardaram, não é verdade?
Há bocado, navegando na net, soube que o José Franco morreu. E fui invadido por uma tristeza mansa, muito parecida com nostalgia. Como se por momentos me tivessem retirado um bocado do passado. Não é verdade, está cá tudo. Mas eu preferia pensar que pessoas como o "Franco do Sobreiro" jamais desapareceriam. E nem me apetece desenvolver teorias sobre a razão por que.
Embora saiba bem que o que nos enfeitiça e deslumbra na infância nenhuma idade adulta tem o direito de nos tirar.
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