Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Gu...
Nota Pessoal
Mais uma voz que contraria a ideia de que a guerra na Guiné estava perdida.
Moio
via Luís Graça & Camaradas da Guiné de Luís Graça em 14/04/08
A guerra não estava perdida
Mensagem do António G. de Abreu, de 7 de Abril:
Meu caro Luís,
Enviei-te o mail abaixo (1) em Dezembro passado. Podias ter aproveitado qualquer coisa para o blog.
Mas não é por isso que te escrevo.
Estou a preparar um texto sobre uma questão fundamental da História da Guiné-Bissau e da História das Guerras de África e esse texto, peço-te que publiques no blogue. Por uma questão de higiene, pela veracidade e rigor que a História deve ter.
Estive na Guiné de 72 a 74, num comando de operações, no norte (Teixeira Pinto), no centro (Mansoa) e os últimos onze meses no sul (em Cufar, até Abril de 1974.
A guerra não estava militarmente perdida, ao contrário do que muita gente afirma e referiu recentemente no blogue o Beja Santos na crítica infeliz ao livro do Manuel Bernardo, "em 1973/74 (...) o PAIGC passou a ter a total iniciativa entre o norte e o leste, em todo o espaço fronteiriço com a Guiné-Conakry."
A tese de que a guerra, no terreno, estava perdida, é uma tese falsa, não corresponde à realidade. A tese de que depois de Maio de 1973, quando foram abatidos os cinco aviões pelos mísseis do PAIGC, as NT passaram a não ter apoio aéreo e por isso a superioridade do PAIGC passou a ser evidente e esmagadora, também é falsa.
Sei do que falo, e comigo muitos camaradas que estiveram nessa altura na Guiné. A partir de Julho de 1973 até Abril de 1974, os aviões continuaram a voar, com muito mais cuidado, é verdade, a "rapar" etc., mas continuaram a bombardear, continuaram (os helicópteros) a fazer evacuações directamente no mato, a levar géneros e frescos, a transportar carga, pessoal e armamento, sobretudo os Nord-Atlas, estes para Cufar, Bafatá e Nova Lamego.
Quem controlava a esmagadora maioria das cidades vilas e aldeias, com as suas populações, era ou não era o exército português?
É preciso demonstrar a falsidade de algumas teses. Sem nenhum patriotismo ou nostalgia de um passado bolorento quando um regime autocrático e cego nos enviou para África.
Vou fazê-lo num texto que te enviarei dentro de dias.
Um forte abraço
António Graça de Abreu
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Notas: adaptação do texto e sublinhados da responsabilidade de vb.
(1) Mensagem que o António G. Abreu nos enviou em 3 de Dezembro sobre a Companhia 4740 mais o médico Bagulho, camarada e amigo (e que não publicámos...sem perdão, Caro António):
Meu caro Luís
Não tenho dito nada, mas estou, dia a dia, atento ao blogue e há uma imensidade de camaradas com imenso para contar!
Eu contei quase tudo no meu livro Diário da Guiné 1972-1974.
O livro continua a circular com sucesso e fico sempre satisfeito por sentir que aqueles textos correspondem à vida de muitos de nós por terras da Guiné.
Estive sábado passado, dia 1 de Dezembro, em Fátima com o pessoal da Companhia 4740, os Leões de Cufar.
Reuniram-se pela primeira vez, ao fim de 33 anos e 161 dias. Foi uma festa!
Metade do meu livro tem a ver com a minha estadia em Cufar (Junho de 1973 a Março de 1974), vivências partilhadas com aqueles camaradas e amigos. Do cap mil João Gaspar da Silva (actualmente advogado em Alcobaça) aos alferes, furriéis, soldados, éramos trinta companheiros, quase irmãos, a recordar, por bem, tempos tão importantes, inesquecíveis da nossas vidas.
Esta é a Companhia do Enfermeiro António Manuel Salvador, que anda lá por Amesterdão e de vez em quando entra no blogue a falar de injecções sem dor dadas em Cufar a majores com vinte e poucos anos (não seria um tenente?...).
Eu não pertenci à 4740, mas ao CAOP1 (Comando de Agrupamento Operacional 1) e foi através do teu blogue que o pessoal que organizou este 1º. convívio me descobriu. Ainda faltam mais homens da companhia 4740 e do meu CAOP 1.
Quem dá uma ajuda para nos descobrirmos e engrossarmos o leque majestoso destes quase heróis do fim da Guerra da Guiné?
Perguntas-me pelo Bagulho, o médico, cirurgião de Teixeira Pinto. Falo nele no meu livro, conheci-o bem quando cheguei a Teixeira Pinto, em Junho de 1972. Estava lá com outro médico, outro grande senhor chamado Pio de Abreu que é hoje professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e um dos maiores especialistas portugueses em Psiquiatria. Foram duas pessoas que me orgulho muito de ter conhecido.
Do Dr. Bagulho, filho do almirante Tierno Bagulho, sei que faleceu poucos anos depois de voltar da Guiné. Afinal tu conheces a viúva, a Raquel.
Infelizmente não tenho nenhuma fotografia do Bagulho e do Pio de Abreu, apenas uma onde apareço com o outro médico, o Mário Bravo, que veio substituir um deles em Teixeira Pinto. Um abraço ao Mário Bravo.
Mau caro Luís, agradeço-te por tudo, o blogue, a amizade, a disponibilidade para, via Guiné, nos reencontramos com os outros camaradas e connosco próprios.
Mais um abraço,
António Graça de Abreu
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