Que estudo leu Cavaco Silva?
Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
Cavaco Silva insistiu repetidamente no seu discurso de 25 de Abril no alegado distanciamento e alheamento dos jovens em relação à política, invocando em defesa do seu ponto de vista o estudo "Os Jovens e a Política" realizado pelo CESOP da Universidade Católica Portuguesa.
O Presidente tem todo o direito à sua opinião, só que ela não é suportada pelo citado documento. De facto, eis o que se lê nas conclusões sintéticas do trabalho orientado por Pedro Magalhães:
1. A insatisfação dos jovens portugueses em relação à política é "algo menos pronunciada que entre os mais velhos".
2. No que toca às atitudes de baixo envolvimento com a política, verifica-se que "as diferenças entre os jovens adultos e o resto da população activa são reduzidas".
3. Os jovens "tendem a ser menos cépticos do que os mais velhos em relação à eficácia de todas as formas de participação política, convencionais ou não".
4. Os jovens não se distinguem do resto da população "do ponto de vista dos comportamentos participativos", mas os seus "níveis de disponibilidade para a participação e de participação real" podem ser vistos "como sendo comparativamente elevados".
5. Apesar de serem baixos os níveis de envolvimento activo em movimentos associativos, "os índices de participação social dos jovens são mais elevados do que os da restante população".
6. Os jovens são mais adeptos do que os portugueses em geral da democracia directa, mas acreditam menos na eficácia do voto.
Que estudo leu e citou então o Presidente da República? O que é que lhe permite afirmar que há um problema especial de relacionamento dos jovens com a política, se o estudo conclui exactamente o contrário?
Pela minha parte, quero sublinhar quatro pontos positivos no que respeita às atitudes dos jovens portugueses em relação à política tal como reveladas pelo estudo:
1. Acreditam que a política democrática não deve esgotar-se no voto.
2. Estão mais disponíveis para a participação activa em iniciativas de índole política.
3. Apoiam transformações do sistema eleitoral que facilitem a responsabilização dos eleitos perante os eleitores.
4. São a favor de reformas limitadas e incrementais na sociedade portuguesa.
Nada mau.
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