Olhar a alma
via COMBUSTÕES de Combustões em 20/04/08
Ruth Benedict terá sido uma antropóloga pouco escrupulosa. Diz-se que criava, precipitando-as, situações que logo registava como padrões culturais; diz-se que passou por uma fase agitada em que quis ver nos ilhéus do Pacífico os últimos representantes de um "comunismo sexual" entretanto eliminado na restante orbe pela criação da família e da propriedade; diz-se que partia de apriorismos e afeiçoava-os aos dados recolhidos, deitando para o caixote do lixo tudo o que não compaginasse com as suas pressuposições. Se foi assim tão má académica e investigadora, teve momentos de lucidez e quase genialidade. O Crisântemo e a Espada, encomendado em plena guerra pelo governo americano, publicado vezes sem conta ao longo dos últimos sessenta anos, é a prova manifesta da inteligência e habilidade superiores da contestada autora. Ali está, sem uma ruga, sem mácula de exagero, o retrato psicológico do povo nipónico. Comprei-o há dias e levei-o para o Rio Kwai. Da sua leitura revelou-se-me, finalmente, a complexa textura da forma de pensar e sentir desse admirável povo. Ontem, no almoço com três colegas japoneses, fui estudando as suas reacções, os seus silêncios, o sorriso nervoso, o gargalhar infantil. Estava lá toda a tese de Ruth Benedict. Um povo com extremos de cadura e violência, gentil e brutal, amante das flores mas implacável, que converte a caligrafia e a jardinagem em exercícios espirituais mas perde o controlo de si quando o frenesim do sangue tolhe a inteligênia. O Japão é e será sempre o Japão !
Umi Yukaba
If I go away to sea.
I shall return a corpse awash;
If duty calls me to the mountain,
If duty calls me to the mountain,
A verdant sward will be my pall;
Thus for the sake of the Emperor
Thus for the sake of the Emperor
I will not die peacefully at home.
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