segunda-feira, 3 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2607: Camacho Costa morreu há cinco anos. Torcato Mendonça.

via Luís Graça & Camaradas da Guiné de Luís Graça em 03/03/08
Mensagem do Torcato Mendonça:

Meus Caros Editores

Ontem foi homenageado um Amigo meu. Foi combatente na Guiné. Faleceu, vítima de cancro do pulmão, há cinco anos. Parece ontem e estes óculos são uma…ou eu envelheço rapidamente. Melhor…o oxigénio repara os óculos…não queria chatear mas, um dia falaram aqui em homens que combateram ou se piraram da Guiné. Este não foi guerreiro e certamente não desejava isso. Mas certamente foi útil naquele País…

Recuperei parte de um escrito antigo.

Um abraço,

Torcato Mendonça
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Combatente na Guiné

Serviu aquela Terra, as suas Gentes e, principalmente as Nossas Tropas mais pela palavra, pelo acto cultural do que pela arma. Provavelmente, mesmo sendo militar, nunca deu um tiro. Mas foi um Combatente, mais um que serviu a Pátria na Província da Guiné.

Conto, voltando á infância longínqua de dois sexagenários. Recordemos então:

Era um miúdo franzino, cabelo liso, despenteado, esvoaçando ao vento e de pele morena. Aparecia sempre pelas férias escolares. Não sei ao certo quando nos conhecemos ou nos vimos pela primeira vez. De muito tenra idade certamente, numas férias escolares, mesmo antes de termos entrado nessas lides A sua mãe era professora, leccionava na zona de Lisboa mas voltava sempre, nas férias, á sua terra natal, também a dele e a minha por adopção.

Brincávamos com os outros miúdos da nossa idade, aos ninhos e á passarada, no rio em fuga aos progenitores e a vários jogos, apelidados hoje de tradicionais.
Crescemos cimentando a amizade que só os miúdos, com a sua sã convivência, conseguem.
Fomos para a escola e mais tarde para o colégio, mantendo o grupo unido.

Ele, lá longe, fazia o mesmo percurso, escola, talvez o liceu, o colégio e, se bem me lembro, como os estudos não tinham os resultados desejados pelos pais, foi até Tomar – colégio mais apertado…. As férias continuavam a ser tempo de união, de brincadeiras, de conversas, de outras vivências e convivências, próprias de jovens que, sem darem por isso, foram crescendo.

Ele era diferente. Não só pelo cabelo liso, despenteado e desalinhado. Ele também o era. Mais sensível, mais dado a leituras, escrita, música, poesia e já o teatro. Alegre, de sorriso e piada fácil, preocupava-se mais com o seu sonho, o seu modo de estar e amar a vida do que com os estudos impostos. Conversávamos longamente.
– Lê isto que eu escrevi ou escuta este poema. Um dia apareceu com uma máquina de filmar… outro sonho.

Começamos a contactar menos devido á roda da vida. Eu num lado, ele no mundo do espectáculo ou da escrita. Teatro, jornalismo e outras deambulações. Víamo-nos, de quando em vez por Lisboa… que saudade e que recordações…

Chegou o dia, aquele dia, a que aos homens da minha geração era posto ponto e virgula, senão mesmo ponto final. Tempos de humilhação, de desrespeito pela nossa cidadania.
Fui cumprir o serviço militar. Ele foi depois.

Um dia o encontro dramático, ainda hoje arrepiante. Ambos tínhamos ido para a Guiné.
Regressávamos de uma operação, cansados, fartos e com o Geba ali perto. Como vinha á frente informaram-me:
- Cuidado pois há “periquitos” a fazer segurança. Passa palavra, olhos mais abertos. Mais á frente faz-se o encontro. Não pára, só olha e descomprime um pouco.

Vindo do mato a voz de alguém a dizer o meu nome. Olho nessa direcção. Direito a mim, corre um militar com um “banana” na mão. Olho e não acredito. Estupidamente pergunto:
- Zé que fazes aqui? Ele abraça-me, olha-me com as lágrimas a escorrerem-lhe pela face magra. Aperto-o pelos ombros. Não sei se disse algo a tentar reconfortar.

Não era lugar para o Zé Manuel. Combinamos encontrarmo-nos em Bambadinca. Assim o fizemos e o Zé Manel contou-me a sua vida no Xitole ou Saltinho (2406? não sei).
Mostrou-me as mãos com calos e sinais de bolhas. Aquilo não era para ele nem para nenhum de nós. Só que eu e outros fazíamos a “nossa guerra”e já tínhamos muito tempo de mato.

Falei com o Capitão dele. A resposta foi, se bem me lembro, esse poltrão nem cavar sabe, isto não é o teatro. Nem eu sei cavar meu Capitão. Curiosamente, em futuros encontros, o meu relacionamento com este Capitão foi bom. Compreendi-o. Não gostava de Teatro…
Abreviemos.

Pouco tempo depois o Zé estava em Bissau. Perdeu-se, um soldado ou cabo atirador ou telegrafista mas, a Rádio em Bissau ganhou um radialista. E não só. E não só.

Eu há cinco anos, como passa depressa o tempo, perdi mais um amigo de infância.

Foi ontem homenageado, pela estação de televisão onde mais trabalhava. Assisti. Ouvi as palavras habituais mas ainda bem que o recordaram. Merecia. Hoje alinhei estas palavras pela saudade que sinto, dele e de outros desse tempo que, desta vida, partiram.
Descansa em Paz, meu querido José Manuel Camacho Costa.
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José Camacho Costa (n. Odemira, 8 de Junho de 1946 - m. Lisboa, 1 de Março de 2003), actor português.

Era licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, foi crítico de cinema entre 1973 e 1978, mas foi ao teatro, principalmente à comédia portuguesa que mais se dedicou.

Entre 1976 e 2000 participou em mais de vinte produções dos teatros do Parque Mayer.

Trabalhou também com os Artistas Unidos onde foi dirigido por Jorge Silva Melo. Com mais de dez participações no cinema, em filmes como Manhã Submersa de Lauro António, Saudades para Dona Genciana de Eduardo Geada, O Testamento do senhor Napumoceno da Silva Araújo de Francisco Manso ou Ilhéu da Contenda de Leão Lopes, popularizou-se com a sua presença regular nas principais séries televisivas de humor portuguesas, como Os Malucos do Riso de Marecos Duarte. (SIC).

O papel mais conhecido e mais cómico foi o Lelo cuja etnia era cigana, tambem o mestre André, medigo,alentejano entre outras personagens.

Morreu a 1 de Março de 2003, vítima de um cancro pulmonar.

Foi sem dúvida uma grande perda para o humor nacional e sempre sera recordado por todos nós.Não há nimguém como ele.


em Wikipedia

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Fixação de texto: vb

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