domingo, 30 de março de 2008

Mudança mudada

Nota Pessoal
Uma mudança é muito complicada: sobretudo, quando se tem muitos papéis, livros, fotos, fotocópias. Quando se tem o hábito de se guardar todos os papéis que passaram pelas nossas mãos e que, alguns deles, tanto prazer nos deram...
Moio

via Pedro Rolo Duarte de PRD em 29/03/08
A mudança praticamente chegou ao fim. Há pequenos resquícios de caixotes aqui e ali, pormenores por acertar, mas o essencial está feito. Da enorme e pesada escrivaninha antiga com fecho de correr em madeira, ao mais pequeno e ínfimo lápis. Passando por toneladas de livros, papeis, jornais, revistas, bocados de uma história que só interessa ao seu autor e (curiosamente também...) actor.
Hoje ainda, mais uma caixa para o armário lá do fundo. O meu filho quis ver e gostou do que viu. Eram, entre centenas, estes bilhetes de espectáculos...
  • Dire Straiys ao vivo em Madrid, 1985 – mega produção que a Polygram portuguesa organizou para assinalar o lançamento do primeiro disco em formato... CD. Justamente “Brothers in Armas”.
  • Leonard Cohen em Cascais, salvo erro em 1984. Um épico da minha vida nocturna. Este ano regressa, mas eu tenho aquela ideia “cota” de “já ter visto”...
  • Trovante no Coliseu em 1984 – um espectáculo em que me envolvi profissionalmente, e que acabou numa madrugada excessivamente alcoólica ali no restaurante dos “Bons Amigos”...
  • Frank Sinatra em Madrid, 1986, Estádio Santiago Bernabeu e uma sombra que pairava sobra a cidade: Sinatra, revelava a imprensa de esquerda, teria sido apoiante de Franco. Ambiente tenso no estádio, bilhetes oferecidos à última hora a polícias e soldados, para compor a moldura humana. Ainda assim, um espectáculo de mestre. Do mestre. O Nuno Miguel Guedes é que lá devia ter estado...
  • Caetano Veloso, um de tantos que vi dele, todos, talvez. Não sei se terá sido desta vez que acabei a noite com Caetano, a mulher, um grupo que incluía o Carlos Gomes e o José Nuno Martins, todos no Sr. Vinho a ouvir cantar o fado...

Encontrar estes bocados de passado é lembrar que à volta da música houve amores, amizades, promessas, teorias, ideias, revoluções, caminhos. Houve de tudo – e ao olhar cada um destes bilhetes, eu consigo recuperar parte dessa memória.
Tenho mais umas centenas de bilhetes e “passes” e “livres-trânsito”. Escolhi alguns que significam para mim mais do que escrevi. Mas o mais interessante é pensar que pedaços de papel, pequenos e frágeis, se arrastam em caixotes, camiões, gruas, de um lado para o outro, numa operação montada com rigor, preparada para ser funcional e prática. Dessa aventura da mudança faz parte a ideia de que estes papeis serão cuidados por profissionais com dedicação e sensibilidade. Como se estes bilhetes – ou folhas de filofax, ou candeeiros sem história - constituíssem, em si, tesouros...

(E não é que são mesmo? Só para mim. Mas são.)

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