DO ALGARVE PARA CUBA
Nota pessoal
Uma coisa boa que nos vem de Cuba. O comunismo, por vezes, dá-nos bons exemplos.
Moio
via Da Literatura de Eduardo Pitta em 18/03/08
A TVI emitiu ontem uma reportagem que dá que pensar. É raro, mas acontece. Descontada a propaganda, vamos a factos. O município de Vila Real de Santo António, no Algarve, tem um acordo de geminação com a cidade cubana da Playa, nos arredores de Havana. Nos termos desse acordo, transfere para Cuba, todos os anos, 50 mil euros. Entretanto, no Algarve, as listas de espera (na Saúde) são o que são. Desde o 25 de Abril que se sabe que o Hospital de Faro é o paradigma do que não deve ser uma unidade hospitalar. Isto não é novidade, basta consultar os jornais dos últimos 30 anos. Portanto, listas de espera homéricas. Só na área da oftalmologia, envolvendo munícipes de Vila Real de Santo António, para cima de 150 pessoas. Algumas delas há anos nas famosas listas. Vai daí, o presidente da Câmara, o social-democrata Luís Gomes, decidiu (e bem) organizar tours de saúde entre o Algarve e Cuba. As pessoas vão daqui, são operadas na cidade da Playa e, em quinze dias, voltam a Portugal com o problema das cataratas resolvido. Segundo relato dos interessados, satisfação total: recepção calorosa, condições técnicas de excelência, eficácia a todos os níveis. Pessoas que estavam há dez anos sem ver, recuperam essa faculdade. A reportagem da TVI foi eloquente na demonstração da evidência. O autarca, militante do PSD, não tem pruridos ideológicos, apenas lhe interessa o bem-estar dos seus munícipes. Se bem percebi, o primeiro grupo de 10 já foi e voltou, estando de partida um segundo grupo de 15. O tour custa 1400 euros por pessoa, tudo incluído (avião, taxas, transfers, hotel, cuidados médicos, intervenção cirúrgica, alimentação). No hospital da Playa, para onde são encaminhados os algarvios, fazem-se por dia 300 operações às cataratas. Trezentas. Em Portugal, em média, quantas se fazem por hospital e por mês? Vinte? Adiante. Fiquei a pensar nos 1400 euros do tour. Sei, por experiência recente com familiar, que uma unidade particular de topo, em Lisboa, cobra 2000 euros pela operação às cataratas (o paciente entra às 9h, é operado às 10h, tem alta às 14h; volta no dia seguinte para uma consulta às 9h; assunto arrumado). Se os hospitais públicos não chegam, porque, entre outras razões que ninguém entende, a maioria dos blocos operatórios encerra a seguir ao almoço, não poderia o ministério da Saúde arranjar protocolos com privados de modo a operar as pessoas ao preço que custa o tour algarvio para Cuba? Sempre evitava a vergonha de assistir a estas excursões de pessoas que são obrigadas a atravessar o Atlântico porque, em Portugal, ou seja, na Europa, ninguém lhes devolve a visão em tempo útil.
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