Miguel de Unamuno, Mais uma Voz Contra a Modernidade
via Nacional-Cristianismo de NC em 26/01/09
Das ruínas da Idade Média, que assinalam a derrocada do mundo tradicional, soltou-se a iniquidade, morreu a vida eterna, ressuscitou a obscuridade assente no elemento temporal, e surgiu tudo o que é moderno. A decadência e a revolta contra a ordem cedo marcaram o destino trágico a que a Europa fundada na Igreja de Roma está condenada. O espírito da superior civilização europeia, guiado pela sublime santidade da entrega incondicional à cruz, ficou irremediavelmente perdido. A actualidade, com todos os seus horrores, não deixa de ser o prenúncio do verdadeiro inferno na Terra. Mas, por entre as trevas há sempre uma estrela que nos aponta o caminho, uma dessas luzes, que o homem moderno, e agora o caótico ser pós-moderno controlado pelos media, desenraizado, sem desígnios e intelectualmente míope não consegue alcançar, é Miguel de Unamuno. Em 1912, nas vésperas da I Grande Guerra, o filósofo tradicionalista espanhol nosso irmão avança com a seguinte conclusão:
"Foi para descatolizar a Europa, que contribuíram o Renascimento, a Reforma e a Revolução, substituindo ao ideal de uma vida eterna ultraterrestre o ideal do progresso, da razão e da ciência. Ou, melhor, da Ciência com maiúscula. E o que mais conta hoje – a Cultura. Na segunda metade do século XIX, época infilosófica e tecnicista, dominada por míope especialismo e pelo materialismo histórico, esse ideal traduziu-se por uma obra de vulgarização em todos os sentidos da palavra – científico, ou antes, pseudocientífico, que se exibia nas bibliotecas democráticas baratas e sectárias. A ciência pretendia assim popularizar-se, como se a ela coubesse baixar-se até ao povo, servindo as paixões deste, em vez de o povo subir até ela, e a elevar-se, por ela, até novas e mais profundas aspirações. Tudo isto levou Brunetière a proclamar a bancarrota da ciência, e esta ciência – dê-se-lhe o nome que quiser – fez, com efeito, bancarrota. E como deixou de satisfazer, não deixámos de procurar a felicidade, sem a encontrarmos, nem na riqueza, nem no saber, nem no poder, nem no gozo, nem na resignação, nem na consciência moral, nem na cultura. E veio o pessimismo. Também o progressismo não satisfazia." (Miguel de Unamuno, Do Sentimento Trágico da Vida.)
"Foi para descatolizar a Europa, que contribuíram o Renascimento, a Reforma e a Revolução, substituindo ao ideal de uma vida eterna ultraterrestre o ideal do progresso, da razão e da ciência. Ou, melhor, da Ciência com maiúscula. E o que mais conta hoje – a Cultura. Na segunda metade do século XIX, época infilosófica e tecnicista, dominada por míope especialismo e pelo materialismo histórico, esse ideal traduziu-se por uma obra de vulgarização em todos os sentidos da palavra – científico, ou antes, pseudocientífico, que se exibia nas bibliotecas democráticas baratas e sectárias. A ciência pretendia assim popularizar-se, como se a ela coubesse baixar-se até ao povo, servindo as paixões deste, em vez de o povo subir até ela, e a elevar-se, por ela, até novas e mais profundas aspirações. Tudo isto levou Brunetière a proclamar a bancarrota da ciência, e esta ciência – dê-se-lhe o nome que quiser – fez, com efeito, bancarrota. E como deixou de satisfazer, não deixámos de procurar a felicidade, sem a encontrarmos, nem na riqueza, nem no saber, nem no poder, nem no gozo, nem na resignação, nem na consciência moral, nem na cultura. E veio o pessimismo. Também o progressismo não satisfazia." (Miguel de Unamuno, Do Sentimento Trágico da Vida.)
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