quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mitos & guerras

via COMBUSTÕES de Combustões em 01/04/08

Foi argumento decisivo para inculcar a inevitabilidade da derrota militar e, consequentemente, para desculpar todas as patifarias feitas nas costas dos portugueses europeus, as patifarias decididas contra os portugueses ultramarinos e a supina patifaria de entregar países e povos a semi-analfabetos com declaração abonatória de marxismo-leninismo exarada nos cursilhos de Pequim, Moscovo, Sófia e Belgrado. "A guerra de guerrilhas não se vence". Rematado disparate, como se qualquer guerra, colisão de forças e vontades, não termine, sempre, com a vitória de um dos contendores. O labor dos historiadores isentos e indiferentes às paixões que devoram os políticos e simplificadores faz-se pela investigação, pela comparação de fontes e pela legibilidade dos acontecimentos e suas consequências. Ora, se o movimento das independências africanas e asiáticas se manifestava como uma tendência do redesenho das esferas de influência no fim de um conflito mundial em que a Europa se consumiu, permitindo o ascenso dos EUA e a expansão da União Soviética, nas derradeiras lutas coloniais travadas por holandeses, britânicos e portugueses, os exércitos coloniais não só contiveram a subversão, como triunfaram sobre os seus adversários. A comprová-lo, a derrota dos seguidores de Sukarno, o esmagamento dos Mao Mao pelos britânicos no Quénia e o colapso da guerrilha comunista malaia. Até a França esteve a minutos de destruir as forças do Vieth Mihn em Dien Bien Phun, se o pedido de apoio requerido por Paris à esquadra norte-americana do Pacífico tivesse sido deferido. Porém, nos anos 50, os EUA eram ardentes defensores dos "ventos da história", pensando poder dominar, em modelo Filipino retocado, as vastas regiões abandonadas pela retirada da Europa. O encantamento exercido pela propaganda marxista não resiste a acareação, mas naquelas décadas em que o comunismo se apresentava com a legitimidade da vitória, a simples tentativa de contestação ou impugnação daquela argumentação infantil incorria em perigosas consequências. À força de tanto se repetir a banalidade, esta ganhou raízes de doutrina. Agora, apaziguados os ânimos, surgem os primeiros trabalhos de vulto sobre esses derradeiros momentos da presença imperial europeia na Ásia e África. Nestas Forgotten Wars comprova-se a tese da impossibilidade da guerrilha em destruir exércitos modernos, bem equipados e profissionais. Uma obra indispensável para os nossos memorialistas da "guerra colonial".

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