Meu país!
I
Um país que crianças elimina
E não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina; que
permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde os que têm razão passam a ser vis
E maltrata o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país.
II
Um país em que as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos,
Com 90 milhões de analfabetos
E multidão maior de miseráveis;
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não tem vez e nem direitos
Mas corruptos têm voz, têm vez, têm bis
E o respaldo de um espírito comum,
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é, com certeza o meu país.
III
Um país que seus índios discrimina
E a ciência e a arte na respeita;
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina.
Um país onde a escola não ensina
E o hospital não dispõe de raios-X;
Onde o povo da fila só é feliz
Quando tem água da chuva
E luz do sol,
Pode ser o país do futebol
Mas não é, com certeza o meu país.
IV
Um país que é doente não se cura.
Quer sempre ficar no terceiro mundo,
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura.
Um país que perdeu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Para melhor assaltar de ponta a ponta,
Pode ser um país de faz-de-conta
Mas não é, com certeza, o meu país.
V
Um país que perdeu a identidade,
Sepultou o idioma português,
Aprendeu a falar pornô e inglês
Aderindo à global vulgaridade;
Um país que não tem capacidade
De dizer o que pensa, e o que diz
Não é capaz de curar a cicatriz
Desse povo tão bom que vive mal
Pode ser o país do carnaval,
Mas não é, com certeza, o meu país!
* Nota de Fausto Wolf:
“(...) Este ano o texto que mais me comoveu foi o poema Meu país, atribuído a Nilton Velasco e também ao falecido Jaime Caetano Braun. Tem cara de ser coisa de gaúcho. De qualquer forma, Castro Alves assinaria embaixo e José do Patrocínio também. (...)”
Poema para o dia das eleições, a hora H - Fausto Wolf
Matéria publicada no Figuras do B (Caderno B, Jornal do Brasil) em 1º de outubro de 2006
Um país que crianças elimina
E não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina; que
permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde os que têm razão passam a ser vis
E maltrata o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país.
II
Um país em que as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos,
Com 90 milhões de analfabetos
E multidão maior de miseráveis;
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não tem vez e nem direitos
Mas corruptos têm voz, têm vez, têm bis
E o respaldo de um espírito comum,
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é, com certeza o meu país.
III
Um país que seus índios discrimina
E a ciência e a arte na respeita;
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina.
Um país onde a escola não ensina
E o hospital não dispõe de raios-X;
Onde o povo da fila só é feliz
Quando tem água da chuva
E luz do sol,
Pode ser o país do futebol
Mas não é, com certeza o meu país.
IV
Um país que é doente não se cura.
Quer sempre ficar no terceiro mundo,
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura.
Um país que perdeu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Para melhor assaltar de ponta a ponta,
Pode ser um país de faz-de-conta
Mas não é, com certeza, o meu país.
V
Um país que perdeu a identidade,
Sepultou o idioma português,
Aprendeu a falar pornô e inglês
Aderindo à global vulgaridade;
Um país que não tem capacidade
De dizer o que pensa, e o que diz
Não é capaz de curar a cicatriz
Desse povo tão bom que vive mal
Pode ser o país do carnaval,
Mas não é, com certeza, o meu país!
* Nota de Fausto Wolf:
“(...) Este ano o texto que mais me comoveu foi o poema Meu país, atribuído a Nilton Velasco e também ao falecido Jaime Caetano Braun. Tem cara de ser coisa de gaúcho. De qualquer forma, Castro Alves assinaria embaixo e José do Patrocínio também. (...)”
Poema para o dia das eleições, a hora H - Fausto Wolf
Matéria publicada no Figuras do B (Caderno B, Jornal do Brasil) em 1º de outubro de 2006
Sem comentários:
Enviar um comentário