Viagens de Pêro da Covilhã (III)
Tal era, em substância, a história contada pelo bispo de Gabala, e transcrita pelo bispo de Freisingen; e esta história parece ser a primeira, se não a única origem da lenda. A narrativa do bispo de Gabala tem todo o cunho de ser sincera, e de assentar sobre factos reais quaisquer que eles fossem, Mas depois, espalhando-se pela cristandade, vieram a implantar-se sobre ela muitas circunstâncias inventadas. No ano de 1165 circularam algumas cópias de uma carta daquele rei-sacerdote, dando conta da enorme extensão do seu império aos soberanos da Europa. Vinham dirigidas ao Papa, que então era Alexandre III, ao imperador do Oriente, Manuel Coménio, ao famoso imperador do Ocidente, Frederico Barba-roxa, ao rei de França, Luís VII, e também, segundo alguns diziam, ao rei de Portugal, Afonso Henriques. Referia a carta, que o Presbítero João dominava sobre as três Índias, sobre setenta reis tributários, e sobre várias nações, entre as quais se contavam as dez tribos perdidas de Israel, que Alexandre o Grande encerrara na muralha de Gog e Magog, e muitas outras. Quando ia à guerra, levava dez cruzes de ouro e pedraria a cada uma das quais seguiam dez mil homens de cavalo e cem mil homens de pé. Acrescentava ainda a carta muitas outras indicações, tão fantásticas como estas, se não mais, e que seria longo enumerar.
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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