Viagens de Pêro da Covilhã (I)
Correndo o ano de 1487, mandou el-rei D. João II chamar à sua presença o seu escudeiro Pêro da Covilhã, que acabava de chegar da Berbéria, para em grande segredo o encarregar de uma alta missão de confiança. Tratava-se nada menos que de partir pela via do Mediterrâneo – que outra ainda não era descoberta – para as terras do Oriente, a fim de procurar ali o célebre Preste João, informando-se ao mesmo tempo da procedência da canela e outras especiarias, que então vinham pelo Levante a Veneza. A missão era difícil, mas o rei confiava no zelo do seu escudeiro, assim como no acerto e felicidade com que ele se havia desempenhado de outros encargos espinhosos. A missão era difícil e era ao mesmo tempo típica, como que fixando antecipadamente as duas feições do nosso futuro domínio na Índia – o proselitismo e a exploração comercial. Mostrava bem, como a rivalidade com Veneza e o intento de lhe disputar o rico tráfico do Oriente estavam já formulados no ânimo do rei; e denunciava igualmente quanto se conservava ainda vivo o desejo de dissipar os mistérios em que se envolvia o lendário Preste João, mistérios que durante séculos tiveram o dom de interessar e apaixonar toda a Europa cristã.
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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