A identidade perdida
As circunstâncias em que meio milhão de portugueses deixou África não permitiram uma transição suave entre as duas vidas. De um dia para o outro, amigos, casas, empregos e paisagens mudaram completamente. A única vida que conheciam eclipsou-se sem deixar rasto no fim de uma ponte aérea. Muitos separam a vida em duas épocas distintas, o antes e o depois. Grande parte não teve remédio senão adaptar-se às novas circunstâncias, outros nunca o conseguiram.
Hoje em dia, apesar de já não se falar tanto nisso, os retornados ainda procuram saber quem são, porque a sua identidade e referências ficaram lá em África, enterradas num passado que os outros querem esquecer.
Graças ao Aerograma, tenho-me apercebido de que as saudades não esmorecem. Uma parte significativa das novas visitas que recebe são de pessoas que procuram referências do passado ou que tentam reavivar memórias. Muitos procuram-se a si mesmos, provavelmente porque ainda não compreendem bem a cambalhota que a vida deu há mais de trinta anos.
Há ainda os descendentes desta geração que viu a sua terra tornar-se estrangeira e que se sentem estrangeiros na terra que agora dizem ser sua. Estes últimos buscam confirmação das histórias contadas pelos pais, talvez para tentar perceber tudo aquilo que não faz sentido.
Por muito que me esforce, sou incapaz de imaginar o que será perder a identidade desta forma abrupta. Mas já me dou por feliz se a minha visão de Angola puder ajudar alguém.
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