Diogo Cam
via Aerograma de Afonso Loureiro em 11/09/09
Coisa curiosa, a maneira como a História é encarada em Angola, especialmente no que toca às referências a Portugal.
A seguir à independência, as estátuas do colono foram retiradas de Luanda. Os símbolos na nova nação não se queriam os mesmos, até porque as referências culturais almejadas eram outras.
As estátuas que foram deixando os pedestais desocupados passaram a conversar umas com as outras em frente à Fortaleza de São Miguel, depois de passearem por um ou outro sítio. A dos Combatentes da Grande Guerra sofreu um destino mais trágico, envolvida em plástico cor-de-rosa e dinamitada para dar lugar a um blindado descomissionado, um monumento à guerra ou ao material militar russo, não sei bem.
Mas em Angola também se travaram batalhas na Primeira Guerra Mundial. Apesar dos massacres nas Ardenas ocuparem a imaginação de todas, a guerra estendeu-se ao Médio Oriente, onde combateu T.E. Lawrence, outra figura mítica, mais conhecido por Lawrence da Arábia, e até mesmo à fronteira de Angola com a Namíbia, na altura uma colónia alemã. Os Combatentes da Grande Guerra não se referem apenas a ideais da metrópole longínqua, mas também a um pedaço de História que decorreu em território angolano.
A estátua de Diogo Cão, o primeiro Português a chegar a Angola, também foi removida, mas o seu pedestal foi deixado intocado. As datas, as quinas do escudo, as coroas e os nomes ficaram lá. A estátua foi desmontada e as várias fatias deixadas junto dos velhos aviões da guerra colonial.
Diogo Cão
Há uns meses, a Praça 4 de Fevereiro, entalada entre o Hotel Presidente, o Palácio de Vidro, o edifício principal do Porto de Luanda e as obras da baía, foi arranjada e limpa. Os lancis foram pintados de preto e branco ou com as cores nacionais, os coqueiros moribundos foram trocados por uns ainda saudáveis e, coisa estranha, o pedestal da estátua retirada em 1975 foi todo recuperado. Antes parecia um velho pedestal abandonado. Agora parece incompleto.
Só falta a estátua
Se encontrarem as peças todas, não falta muito para haver outra vez um monumento a uma figura importante da História de Angola.
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