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Às vezes a saudade aperta... e com muita força. Mas cá vou a viver o meu exílio - agora voluntário. Levei catorze anos para regressar ao Portugal irremediavelmente mutilado no seu corpo e na sua alma pela canalha abrilina. O choque foi grande, mezcla de tristeza, desespero e revolta. E sobreveio um desejo nada cristão de ajuste de contas, de vingança gelada. Fiquei três meses e decidi continuar na carreira de
saltimbanco profissão exilado. A etapa seguinte foi a tentativa do corte cerce: eliminar do pensamento tudo relativo à Pátria desfigurada onde os seus verdugos pontificam alegremente num mar de passividade e impunidade. Com o passar dos anos - ie, com os cabelos brancos - dei-me conta de que minha alma portuguesa não muda. E não morre. É-me simplesmente impossível cortar os laços. Pessoas, lugares, lembranças, sensações, coisas, a História com o seu gigantesco ficheiro a registar o bom, o belo, o verdadeiro. Há muitas formas de servir Portugal e há ainda muitos portugueses que o não são apenas no bilhete de identidade. Apesar de tudo (e este "tudo" não é nada pouco...) vale a pena. Com optimismo quase
chestertoniano quero confiar que um dia o Portugal de sempre há-de ser restaurado.
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