Literatura Colonial Portuguesa
Amândio César (1921-1987), Antologia do Conto Ultramarino (1972).
A publicação do livro Luuanda, de José Luandino Vieira (pseudónimo de José Vieira Mateus da Graça, n. 1935), no início da década de 1960 veio consolidar e consagrar os percursos alternativos que a literatura colonial portuguesa estava a desenvolver desde há algum tempo.
O aparecimento em 1963, no Brasil, do volume Poetas e Contistas Africanos de Expressão Portuguêsa (será novamente mencionado neste blog, em data posterior), de João Alves das Neves (n. 1927) veio conferir suporte antológico a essa literatura alternativa e lançar a preocupação entre os ortodoxos do regime salazarista.
Estas publicações surgiram numa altura em que a crise política com a oposição do general Humberto Delgado (1906-1965) ainda estava latente, numa altura em que o assalto ao paquete Santa Maria, liderado em Janeiro de 1961 por Henrique Galvão (1895-1970), ele próprio um africanista convicto e autor do célebre livro Kurika (1944), ainda estava bem presente na memória de todos os portugueses, numa altura em que a guerra colonial já se tinha iniciado.
Compreende-se assim que o regime necessitasse, urgentemente, de activar a sua máquina de propaganda também na área da literatura. O professor, jornalista, contista, poeta e ensaísta Amândio César, elemento solidamente conotado com o regime (publicara Angola, 1961, um conjunto de crónicas sobre os acontecimentos desse ano no norte de Angola) desempenhou papel fundamental nesse desígnio.
Tendo publicado Parágrafos de Literatura Ultramarina (1960), Algumas Vozes Líricas da África (1962), Elementos Para uma Bibliografia da Literatura e Cultura Portuguesa Ultramarina e Contemporânea (1968, em co-autoria) e Novos Parágrafos de Literatura Ultramarina (1972), surgiu como um das escolhas naturais do regime para efectuar a presente antologia.
Promovendo autores que estavam claramente conotados com o regime, ou que por ele eram tolerados, esta antologia apresenta textos de António Aurélio Gonçalves (1901-1984) e Baltasar Lopes (1907-1989), em representação de Cabo Verde, Fausto Duarte (1903-1953) e João Augusto Silva (n. 1910), em representação da Guiné, Fernando Reis (1917-1992) e Viana de Almeida (n. 1903), em representação de S. Tomé, Amaro Monteiro (n. 1935), Arnaldo Santos (n. 1936), Castro Soromenho (1910-1968), Cochat Osório (n. 1917), Mário António (1934-1989), Orlando de Albuquerque (n. 1925), Óscar Ribas (n. 1909) e Reis Ventura (1910-1988), em representação de Angola, Campos Monteiro Filho (1897-1939), Guilherme de Melo (n. 1931), João Dias (1926-1949), Luís Bernardo Honwana (n. 1942), Nuno Bermudes (1924-1997), Orlando Mendes (1917-1990) e Rodrigues Júnior (n. 1902), em representação de Moçambique, Alberto de Menezes Rodrigues (?-1971) e Vimala Devi (n. 1932), em representação do Estado Português da Índia [sic], Deolinda da Conceição (1914-1957) e Wenceslau de Moraes (1854-1929), em representação de Macau, e Fernando Sylvan (1917-1993) e Ferreira da Costa (n. 1907), em representação de Timor.
Numa fase posterior da sua vida, Amândio César dedicou ainda um livro à poesia de Alda Lara (1930-1962), Alda Lara na Moderna Poesia de Angola (1978), autora que já tinha sido incluída na obra Poetas e Contistas Africanos de Expressão Portuguêsa, de João Alves das Neves.
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