Faleceu o matemático Sousa Ramos
2007-01-04
Paulo Almeida
José Rodrigues Santos de Sousa Ramos, matemático de grande mérito, faleceu a 1 de Janeiro de 2007, em Lisboa, tendo sido sepultado no Sobral da Adiça. Foi uma perda imensa para o desenvolvimento da matemática em Portugal e o tempo acentuará sem dúvida a dimensão dessa perda. * Autor da nota oblituária aqui publicada na íntegra. Nascido na Quarteira em 1948, licenciou-se em Física pela Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa e nela viria a doutorar-se em Matemática, tendo exercido a sua actividade profissional a partir de 1972 no Instituto de Física e Matemática e no Centro de Física da Matéria Condensada, em Lisboa, na Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa e nos últimos catorze anos, no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Na memória dos que o conheceram perdurará a estirpe nobre do seu carácter humano, feito de grande simplicidade e humildade extremas, bem como a sua dedicação incansável e sistemática aos estudantes, dia após dia, ou ainda o deleite da partilha da sua vasta cultura matemática e física. Mas além disso José de Sousa Ramos deixa um legado escrito notável que seria empobrecedor reduzir ao mero número de mais de duas centenas de artigos publicados em revistas e publicações internacionais com referee, na sua maior parte pertencendo ao domínio dos Sistemas Dinâmicos, em particular da chamada Dinâmica Simbólica. A importância da obra científica de José de Sousa Ramos reside na sua grande capacidade criadora e na sua autonomia mental, fazendo-o vogar por vezes muito à frente dos demais, com pensamento original, que por isso mesmo, resultava frequentemente em pensamento transgressor, carecido naturalmente de um burilamento posterior, o que em nada surpreendia os que sabem que as verdades científicas nunca brotam como um destilado sendo antes conquistas conseguidas quase sempre sem os meios adequados do futuro. Pode dizer-se de José de Sousa Ramos que criou uma verdadeira escola de matemática, o que é só por si uma obra rara e notável, como o foi há meio século atrás a que o eminente matemático José Sebastião e Silva nos deixou e cujos efeitos ainda perduram. Os quinze doutoramentos que José de Sousa Ramos orientou além de outros tantos que estavam em curso até ao momento da sua morte atestam o vigor da sua influência. Aos seus discípulos incumbe a tarefa de, sem destempo, divulgar, esclarecendo, a obra do seu mestre, fixando-a para o futuro de maneira organizada e sistemática. Às instituições científicas do nosso meio caberá a honra de condignamente lhe publicar a obra, para que todos dela se possam beneficiar. Oxalá o nosso meio científico já tenha adquirido a maturidade necessária para tomar este desiderato como um dever.
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