Ressaca eleitoral
A noite foi longa. O espanto colara-se à cara de Maria Elisa, acentuando a pálida magreza e aquele ritus agressivo e arrogante que passou a manifestar a partir do momento em que percebeu qual seria o desenlace do concurso. A RTP dispusera-se a este pleito e falhara rotundamente. Pensaram, erradamente, que da propaganda, da intoxicação e da lavagem cerebral de décadas sairia, naturalmente, um resultado afeito ao regime, aos seus mitos e heróis. Correu-lhes tudo mal. Um número cada vez mais expressivo de portugueses - que também é amante da liberdade, mas não a quer confiscada e interpretada - libertou-se do medo, votou em protesto e votou imune à torrente de frases-feitas, historietas, semi-mentiras e semi-verdades que ainda rodeiam a figura de Salazar.
Gostei, sinceramente, da prestação de Nogueira Pinto: calmo, sem condescendências artificiais, seguro e senhor numa posição a que muito poucos aspirariam, como ficou provado pelo medo que fez calar Leonardo Mathias, que ali mesmo resolveu desertar. Gostei, uma vez mais, da enorme coragem de Dacosta, que fulminou aquela gente ociosa, poseur e arrogante com verdades banidas das pantalhas pela censura informal que vigora nas redacções de jornais e televisões desta apagada e vil liberdade hemiplégica em que vivemos. Ontem, Salazar entrou na história pelo voto do povo. Agora, aquela historiografia à Rosas, adjectivadora, preconceituosa, intelectualmente desonesta e facciosa deixou de ter cabidela. Salazar descansa. Só ontem, verdadeiramente, por vontade popular, deixou de ser uma alma penada alvo do delírio obsessivo de uma ou duas gerações crispadas pelo ódio, indiferentes à passagem do tempo e agarradas a sinecuras que são escândalo para uma sociedade sem entusiasmo, sem esperança e sem futuro.
O impronunciável ganhou
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