sábado, 7 de abril de 2007

Filmes que vi em miúdo: a premonição




Exodus (1960), de Otto Preminger. Vio-o em 1972, na Igreja da Polana, em Lourenço Marques. Mal sabia que dois anos depois estaria envolvido no êxodo que acompanhou o fim da África Portuguesa. O tema de Mancini, também interpretado por Piaf, é um hino de dor pela pátria perdida, mas um aceno de esperança à vista da nova terra de acolhimento. Só quem nunca perdeu a sua terra pode falar de ânimo leve em pogroms e perseguições étnicas; só quem nunca sofreu a humilhação de perder a sua terra pode advogar tais engenharias demográficas. Conheci um dia um judeu cuja família saíra in extremis da Polónia em 1939. Falava das árvores, das ruas, das casas e até dos animais de estimação que lá deixara. Anos depois, na Alemanha, travei amizade com famílias alemãs expulsas das suas terras pelos selvagens de Estaline. A mesma nostalgia, o mesmo impulso para viver o tempo morto. A nós, refugiados de África, negaram-nos tudo, até a menção da nossa origem. Por precaução, aconselharam-nos a não proferir o nome de Moçambique. Mas a nossa pronúncia era diferente e em tempos gloriosos do PREC éramos, apenas, os "negreiros" e os "exploradores" expiando o crime horrendo de havermos sido os portugueses de África.

Fonte: Combustões - post de 06Abr2007

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