sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Combate forte numa vila

Que sonho!... Apesar de cenas duríssimas e aterrorizadores não me senti especialmente incomodado. Apenas preocupei-me por comportamentos indevidos e perigosos por parte da Lena e do Alexandre.
Tudo começa quando eu, a Lena e o Alexandre, ainda pequenino, nos encontrávamos numa vivenda grande que se situava no centro de um vila e ao lado de uns tanques enormes que no decorrer do sonho passaram por ser tanques de combustível para depois serem tanques de água. Aí corria um combate feroz, com muita metralha. A vila estava ocupada por elementos da UNITA, movimento pelo qual eu nutria especiais atenções. Julgo até que nos integrávamos na coluna presidencial e que, naquele momento, nos abrigávamos naquela vila airosa.
Um dia, após um violento metralhar, vejo de uma das janelas da casa o presidente Savimbi, de camuflado e bem parecido, então um jovem barbudo de trinta e poucos anos apenas, com uma kalashnicov nas mãos a amedrontar um jovem soldado negro. De quando em vez, aos gritos, tocava-lhe de sopetão na face com a coronha da arma. O jovem encontrava-se semi-deitado numa encosta de uma pequenina elevação e o Savimbi, para se chegar a ele, teve de dobrar uma das pernas. Era uma figura esbelta.
A Lena, inadvertidamente, sai de casa e aproxima-se deles. E isso preocupou-me pois, os ânimos do Presidente estavam exaltados. Aparentemente, a Lena criticava o seu comportamento para com o jovem. Levava uma pequena máquina fotográfica na mão e, a certa altura, tira uma fotografia mais ou menos na direcção onde se passava a cena. Questionei-me – o que está a Lena a querer mostrar? Não vê que se está a expôr e que os elementos da UNITA podem interpretar como uma provocação? Mas, naquele momento, reinicia-se um enorme tiroteio. A vila estava a ser atacada.
Na cena a seguir, encontravamo-nos abrigados na casa enquanto nas ruas se desenrolava um combate feroz. Desta vez, é o Alexandre que, pequenino ainda, sai de casa e despreocupadamente se aproxima de uns combatentes da UNITA que se abrigavam e combatiam numa casa próxima.
Nova preocupação para mim. Comecei a chamá-lo mas, devido aos estrondos da metralha, ele não me ouvia por mais esforços que fizesse. Nisto, vejo fumo branco a sair dos tanques posicionados a uns escassos 50 metros da nossa casa e, como julgava conterem combustível, saí de casa em corrida e em ziguezague a buscar o Alexandre. Ao mesmo tempo tinha a intenção de avisar os combatentes do que se estava a passar, pois pensava que deveríamos abandonar o local o mais depressa possível - havia o perigo dos tanques se incendiarem repentinamente. Estávamos no meio de um enorme barril de pólvora! Ao chegar à casa vizinha onde se encontrava o pequenino Alexandre e os rapazes meus conhecidos e amigos, combatentes da UNITA, reparo que escorre água em abundância das bordas superiores dos tanques e que o fumo começa, pouco a pouco, a desvanecer-se. Pego no Alexandre, pelo braçito, e reparo que os meus colegas estão sujos de pó e alguns com pequenas escoriações, outros deitados no chão, inanimados, supostamente, já mortos. Converso um pouco com eles, dando-lhes ânimo para continuarem o combate.
Preocupado com a vida do Alexandre, munido da minha arma, abrigo-me rapidamente na minha casa. Ao mesmo tempo dava conta de quanto é aterrorizador um combate ao vivo.
Rui Moio. Jornal Íntimo de 15Dez2006

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