Salsichas grossas: a primeira vez
Como são divinais estas salsichas; fritas são melhores, mas era tanta a fome e a preguiça que não esperei – comi-as cruas.
Lembro-me do momento e das circunstâncias em que comi uma destas salsichas pela primeira vez e isso aconteceu no preciso momento em que descobri que havia no mundo salsichas tão grandes e grossas.
Foi, possivelmente, em Outubro de 1975. Voluntariara-me para o célebre e histórico grupo dos 400 (que não ultrapassou os cento e tal que no último instante ficou em Angola para tentar carregar os restos de bagagens dos refugiados. No porto, trabalhava por turnos e procedia ao carregamento dos porões de um barco grego. Um dia, alta noite, sentindo-me muito fraco, com sede e cheio de fome – nessa altura a comida escasseava em Luanda – vagueei pelo barco e, encontrando um frigorífico abri-o e de dentro retirei um frasco com umas salsichas enormes e grossas. Era a primeira vez que via umas salsichas tão grandes. Eram salsichas estrangeiras que não havia em Angola e nunca pensara que pudesse haver no mundo. Abri o frasco e retirei uma salsicha que comi avidamente, e logo retirei outra. Entretanto, surge por detrás de mim um marinheiro, de calções e blusa de dormir. Vinha ao frigorífico. Envergonhado, desculpei-me por ter cometido um furto. E. mais envergonhado estava por o ter feito a pessoas amigas, que confiaram em nós, e que naquela hora de aflição nos ajudavam.
- estou cheio de fome e fraco. Há dias que me alimento muito mal. Escassam os alimentos na cidade. Desculpe.
O marinheiro, um mocetão simpático, esboçou um gesto de apaziguamento e convidou-me a prosseguir, dando-me a entender que eu não estava a fazer nada de mal. Pareceu-me até que me quis transmitir:
- nós sabemos como vai a cidade e colocámos aqui o frigorífico precisamente para vos mitigar a fome.
Rui Moio
Lembro-me do momento e das circunstâncias em que comi uma destas salsichas pela primeira vez e isso aconteceu no preciso momento em que descobri que havia no mundo salsichas tão grandes e grossas.
Foi, possivelmente, em Outubro de 1975. Voluntariara-me para o célebre e histórico grupo dos 400 (que não ultrapassou os cento e tal que no último instante ficou em Angola para tentar carregar os restos de bagagens dos refugiados. No porto, trabalhava por turnos e procedia ao carregamento dos porões de um barco grego. Um dia, alta noite, sentindo-me muito fraco, com sede e cheio de fome – nessa altura a comida escasseava em Luanda – vagueei pelo barco e, encontrando um frigorífico abri-o e de dentro retirei um frasco com umas salsichas enormes e grossas. Era a primeira vez que via umas salsichas tão grandes. Eram salsichas estrangeiras que não havia em Angola e nunca pensara que pudesse haver no mundo. Abri o frasco e retirei uma salsicha que comi avidamente, e logo retirei outra. Entretanto, surge por detrás de mim um marinheiro, de calções e blusa de dormir. Vinha ao frigorífico. Envergonhado, desculpei-me por ter cometido um furto. E. mais envergonhado estava por o ter feito a pessoas amigas, que confiaram em nós, e que naquela hora de aflição nos ajudavam.
- estou cheio de fome e fraco. Há dias que me alimento muito mal. Escassam os alimentos na cidade. Desculpe.
O marinheiro, um mocetão simpático, esboçou um gesto de apaziguamento e convidou-me a prosseguir, dando-me a entender que eu não estava a fazer nada de mal. Pareceu-me até que me quis transmitir:
- nós sabemos como vai a cidade e colocámos aqui o frigorífico precisamente para vos mitigar a fome.
Rui Moio
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