O primeiro livro de LUCIO GIL : Impressões de Leitura Álamo Oliveira
via Comunidades - RTP by Lélia Pereira S.Nunes on 4/19/10
O primeiro livro de
LUCIO GIL
Impressões de Leitura
Uma estória verossímil, que se desenvolve durante a II Guerra Mundial, com gentes judias (algumas portuguesas e descendentes de cristãos-novos), constitui a material ficcional que Lúcio Gil escolheu para o seu primeiro romance.
É um tempo e é um tema que continuam a aliciar, com a mesma persuasão, os criativos da escrita. Este livro – À Sombra das Cerejeiras – é prova dessa força, ou dessa tentação, a que Lúcio Gil não resistiu.
Numa breve entrevista a um dos jornais do Rio de Janeiro e republicada neste suplemento, este jovem escritor fala da sua estreia com propriedade e amadurecimento. Isto é: entre o desejo de escrever um livro e decidir que rumo dar à estória há um tempo de silêncios e de indecisões nem sempre mensurável.
Em 183 ps., Lúcio Gil narra a estória de uma família portuguesa, de origem judia e de estatuto sócioeconômico garantido. Tudo parece caminhar sobre os carris de uma harmonia sólida (amor, dinheiro e a guerra longe), até que um militar nazista e alemão se cruza com a única filha do casal, uma tal Isadora que quer ser bailarina e vai para Paris contra a vontade do pai. A intriga vai enredando com situações imprevisíveis e todos acabam por conhecer o sofrimento dos campos de concentração. Nem todos sobrevivem. Outros, porém, resistirão até ao fim da guerra, regressarão a Portugal e, refazendo a vida, serão felizes. (Não deixa de ser curioso saber-se que a felicidade do jovem e sofrido casal – Isadora e Michel – coube também numa lua-de-mel nos Açores - homenagem do autor ao Raminho da Terceira, terra onde seu pai nasceu e onde ele viveu alguns tempos da sua infância, marcados por memórias ainda e sempre muito vivas).
Esse livro narra, assim, uma das muitas estórias da época, resultando de enorme quantidade de informações colhidas por Lucio Gil em muitos dias de pesquisa. Só que o autor não pretendeu deixar, apenas, mais um romance sobre a II Guerra Mundial. Quis, acima de tudo, deixar uma mensagem de esperança a todos os que aceitam ser possível a interferência transcendental ditada por sucessivas reencarnações. À Sombra das Cerejeiras é, por isso, um título com seu quê de metafórico e místico, como espaço privilegiado para a meditação e para o reencontro de memórias.
Importa referir que, apesar da estória ser totalmente européia, este livro está escrito em brasileiro – designação a aceitar enquanto não existir acordo ortográfico. No entanto, não pode deixar de se dizer que Lúcio Gil estreia-se com uma escrita fluente, ecorreita, de vocabulário adequado e erudito. O livro lê-se com apetite e entusiasmo. E teria, com certeza, um outro sabor, caso tivesse sido lido "à sombra das cerejeiras".
A.O.
Lúcio Gil é natural do Rio de Janeiro, formado em Direito na Universidade Santa Úrsula – USU - , é casado e possui um filho. Atualmente estuda métodos orientais de cura prânica e piano clássico. Viveu parte da infância na Ilha Terceira (Raminho), de onde se inspirou para descrever algumas cenas do livro. Desde a adolescência sempre se interessou por diversas culturas e religiões e, após tanto estudo, considera-se hoje um espiritualista.
P - De onde surgiu a vontade de escrever ?
LG – Desde criança, sempre gostei de escrever. Adorava as redações escolares e cheguei a escrever uma peça infantil. Acho que é herança do meu avô materno. Ele escrevia versos e trovas para cada acontecimento em nossa família.
P – Ha quanto tempo vem escrevendo o livro ?
LG – A decisão de escrever o livro surgiu no ano de 2000, quando escrevi as 30 ou 40 primeiras páginas. O projeto foi retomado em 2004 e, desde então, foram 2 anos e meio de pesquisas e dedicação integral ao romance.
P – O que conta "À Sombra das Cerejeiras"?
LG – O livro é um romance ambientado na Europa dos anos 40. A obra retrata a saga de uma bem sucedida família de cristão novos que vêem seu império ser arruinado pela política nazista e o sentimento anti-semita que assolou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Michel, um jornalista em viagem a trabalho, retorna à sua terra natal, no norte de Portugal, vinte anos após a sua mudança para Paris. Recebido pela Família Carvalho Leão, com a qual conviveu durante os primeiros anos da sua vida, o jornalista não consegue evitar as doces recordações da infância. O aconchego da Quinta das Cerejeiras prometia uma breve e prazerosa estadia. No entanto, a chegada da misteriosa Isadora acaba por envolver totalmente o jovem jornalista em uma surpreendente rede de intrigas e todos passam a viver momentos de suspense e tensão em uma fascinante estória de luta pela sobrevivência.
P – Criar um romance dentro de um periodo histórico não é bastante arriscado ?
LG – "À Sombra das Cerejeiras" tem como enfoque primordial uma mensagem de vida. Trata-se de uma ficção onde os dados históricos foram adaptados de forma romanceada e baseados em pesquisa minuciosa, devido à delicadeza do assunto abordado. Isso acaba gerando um comprometimento maior com a escrita. Foram, portanto, dois caminhos percorridos: o da fluência da imaginação e da emoção e o do critério da pesquisa. Risco sempre haverá para aquele que optar por expor seus pensamentos.
P – O que o motivou a escrever a Segunda Guerra Mundial como periodo histórico do livro ?
LG – Decidi escrever um romance ambientado na Europa, na década de 40. A princípio, esse era meu foco principal. Contudo, a estória foi naturalmente encaminhando para a abordagem histórica do Holocausto e não sei dizer exactamente em que momento da escrita isso aconteceu. Quando percebi, havia a necessidade de me aprofundar no tema e tive que voltar ao início do livro para fazer algumas adaptações. Costumo dizer que fui levado por essa estória. As descobertas oriundas da pesquisa são impagáveis.
Entrevista conduzida por Carla Coelho
In: "Petrópolis em Cena", Junho/07
Publicada no Suplemento de Cultura "Vento Norte" do Jornal Diário Insular,coordenado pelo escritor Álamo Oliveira,na edição de 04 de outubro de 2007
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