O homem que amava a razão
Morreu sorrindo o rigoroso pensador que desvendou as causas e conseqüências da secular má gestão do Brasil
MÁRIO DE ALMEIDA
Fonte: Rev. Época nº. 341 de 29Nov2004
Capa de obra prima do autor - (1959)
Centro Internacional Celsoo Furtado
http://www.unb.br/face/eco/cpe/TD/320agosto2004CCMeJRT.pdf
PDf - Desenvolvimento Económico Brasileiro: uma releitura das contribuições de Celso Furtado de
Joanílio Rodolpho Teixeira
Departamento de Economia, Universidade de Brasília, DF, Brasil.
Peripécias
«Um acidente e um extravio marcam a história de Formação. Um problema técnico no avião em que Celso viajava para a Inglaterra, em 1957, o obrigou a ficar dois dias no Recife, dando-lhe todo o tempo para percorrer as livrarias da cidade. Na Imperatriz, ele encontrou a nova edição do livro de Roberto Simonsen, História econômica do Brasil. Releu-o e, ao chegar a Cambridge, já tinha um projeto em mente: esmiuçar a massa de dados quantitativos que Simonsen reunira sobre o período colonial, e, a partir daí, elaborar um modelo da economia do açúcar em meados do século XVII. Dessa idéia de base, que se desdobraria num panorama da economia brasileira dos séculos XVI ao XX, surgiu Formação econômica do Brasil, redigido entre novembro de 1957 e fevereiro de 1958.
Prontas as quase quatrocentas páginas escritas com caneta azul, Celso foi ao correio de Cambridge despachar os originais para o editor brasileiro. No caminho encontrou um colega da universidade que o alertou para o risco de extravio. Juntos, conseguiram microfilmar o manuscrito. Semanas depois, o inexplicável e prolongado silêncio da editora não deixava dúvida: o pacote, embora registrado, se extraviara. Agora era torcer para que o microfilme prestasse. Prestava. Página por página, Celso datilografou — já com a Olivetti recém-comprada na Itália — o manuscrito projetado na tela. Na revisão, enxugou o texto, apurou o estilo, aclarou dúvidas. Mudou o título, que na versão original era Introdução à economia brasileira.
O Correio de Sua Majestade o indenizou com um cheque de sete libras. Meses depois, de volta ao Brasil, Celso teve a surpresa de saber que o pacote extraviado ficara jogado num depósito do correio do Rio de Janeiro, à espera de uma futura e hipotética “inspeção”, pois fora tachado de material suspeito. Corriam os democráticos anos-JK.»
Conheci Celso Furtado aquando da fequência do Mestrado em Estudos Africanos lá pelos anos de 1992/1993 e o que retenho dele é que dividiu o Brasil em três ou quatro ciclos económicos; o do ouro, o da borracha, o do cacau...
O do ouro; foi o do início da colonização, que forneceu riqueza para D. João V para constriur o convento de Mafra um dos maiores edifícios do mundo renacentista; o da borracha ocorreu no início do século XX e corresponde à exploração desse produto no Norte da Amazónia, cujo espelho da opulência da época se pode observar na arquitectura de Manaus desse tempo; o do cacau, é do periodo a seguir ao da borracha, que ocorreu pelos anos 20 do século passado na zona da Baía, Ilhéus; um tempo e uma vivência profusamente retratados por Jorge Amado.
Rui Moio - 01Dez06
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