domingo, 19 de outubro de 2008

Um livro-bomba (1)

via COMBUSTÕES by Combustões on 10/5/08

De mão amiga, leitor em Portimão, recebi há duas semanas uma obra de autoria do General Silva Cardoso intitulada 25 de Abril de 1974, a Revolução da Perfídia. O autor não requer apresentação: enquanto oficial superior, prestou serviço no teatro de operações de Angola durante sete anos, foi adido militar português na Alemanha, Alto Comissário para Angola até Agosto de 1975, Comandante-Chefe dos Açores, Director do Instituto de Altos Estudos da Força Aérea e Presidente do Supremo Tribunal Militar até 1991. Com a chancela da Prefácio, a obra agora publicada é um verdadeiro acontecimento editorial, pois oferece uma versão absolutamente nova sobre a génese e desenvolvimento do chamado "Movimento dos Capitães", bem como da intriga internacional que se desenvolveu a partir dos anos 60 tendo como finalidade expulsar Portugal de África. Sem nos alongarmos em comentários, passamos a dar voz ao Autor, titulando a nosso critério algumas passagens mais impressivas, reveladoras do desassombro com que um general analisa a descolonização, tema habitualmente tocado pela paixão, pela mistificação e pelo lavar de mãos de muitos que nela jogaram o futuro de Portugal e da África Portuguesa.


A Guerra estava ganha

"1) A guerra em África estava a ser ganha militarmente; 2) O desenvolvimento dos nossos territórios atingia crescimentos sociais e económicos elevados; 3) A subversão na rectaguarda e a inoculação do vírus revolucionário nas Forças Armadas foi a solução que a União Soviética encontrou para impedir a vitória militar portuguesa; 4) Os autores da traição e do descalabro têm nome e são conhecidos os que fizeram, conscientemente, o jogo da URSS e dos seus compagnos de route". (p.15)


1961: os americanos investem no genocídio de Angola

"(...) A 7 de Março Salazar recebe o embaixador americano cuja missão era transmitir a recomendação do presidente Kennedy no sentido de rever a sua política relativa ao Ultramar, de acordo com as recomendações da ONU. Assim, os americanos prepararam uma dupla acção para evitarem em Angola o que um ano antes tinha acontecido no Congo ex-belga em que, ao lado do presidente pró-americano, Kasavubu, surge um primeiro-ministro pró-soviético, Patrice Lumumba. (...) "Para além de uma ataque generalizado às populações do Norte de Angola conduzido pela UPA, os EUA procuram quebrar a unidade da rectaguarda com o planeado golpe de Estado de 8 de Abril, conduzido pelo Ministro da Defesa, General Botelho Moniz, e a cooperação de outros militares altamente colocados no aparelho do Estado no sentido de Portugal aceitar o princípio da autodeterminação das colónias (...). Sabe-se que Salazar ouviu, atenta e longamente, o embaixador e, no final, sem comentários, despediu-se cordialmente e pediu ao representante dos EUA em Lisboa para apresentar os seus respeitosos cumprimentos ao presidente do seu país". (30)

(...) A 15 de Março acontece o genocídio no norte de Angola, onde são dizimados selvaticamente cerca de sete mil seres humanos (mil brancos e seis mil pretos) pelos guerrilheiros da UPA e, a 8 de Abril, o projectado golpe de Estado para afastar Salazae é neutralizado e os seus promotores são removidos das suas funções. Resta saber o que aconteceria se o Presidente do Conselho, Salazar, tivesse acedido à proposta dos EUA: ter-se-ia evitado o genocídio em Angola e o golpe de Estado morreria por si? Quanto ao primeiro ponto creio que teria sido muito difícil travar um dispositivo certamente já montado para evitar aquela mortandade (31).


Os movimentos guerrilheiros perdem a segunda cartada (1963-1966)

"Entretanto, a situação em Angola em finais de 1963, com o MPLA encurralado no Quanza Norte e a FNLA confinada aos seus santuários na região dos Dembos, tinha estabilizado e ter-se-ia assim atingido um primeiro patamar na guerra em Angola. Esta situação não deixaria de agradar aos americanos que, depois de terem perdido a aposta inicial quando tentaram quebral a unidade nacional relativa à política ultramarina (...) viam que os colonos não tinham fugido como acontecera com os belgas no Congo e que aquele imenso território permanecia na esfera do Ocidente" (33).


Terceira fase da guerra (1966-1972)

"Mais três anos passaram e em 1966, apesar do esforço exigido à Nação, inacreditavelmente a situação no terreno mantinha-se controlada pelas forças portuguesas. Inicia-se, então, a teceira fase do conflito com o aparecimento da UNITA e a abertura da frente Leste pelo MPLA em Angola e, em Moçambique, pelo deslocamento da FRELIMO para Sul, para a área de Tete, a fim de dispersar os meios concentrados no Norte (Cabo Delgado) e impedir ou dificultar a construção da barragem de Cahora Bassa. Foi uma fase difícil para as nossas forças, só compensada pelo apoio dado pelo recrutamento local (...)".

"(...)No início da década de 70 a ofensiva do MPLA no Leste de Angola tinha sido totalmente desbaratada com a neutralidade da UNITA que, sem apoios exteriores, estava remetida ao seu buraco nas matas das margens do Lungué Bongo. (...) O enorme empenhamento da URSS na preparação do pessoal do MPLA, no fornecimento de material de guerra que era transportado por barco até Dar-es-Salam e, depois, por caminho-de-ferro até à fronteira de Angola com a Zâmbia, foi completamente gorado. Com esta derrota terminou a nova fase e o projecto de ganhar militarmente o conflito em Angola."

"Em Moçambique, a subversão, circunscrita à região setentrional de Cabo delgado (...) alastrou para Sul até à área de Tete (...) mas esta manobra não resultou e, por alturas de 1972, a barragem era uma realidade irreversível tendo sido cumpridos todos os prazos com um mínimo de incidentes. (...) Na Guiné, (...) foi totalmente activada a componente social com a conquista da população e todo o processo de desenvolvimento no âmbito da educação, apoio sanitário, alargamento da rede viária (...). Importa não esquecer a votação pelos EUA de uma moção contra a política africana de Portugal ao lado da URSS e apresentação pela Libéria no Conselho de Segurança, que acabou por não ser aprovada em virtude do número de abstenções verificadas (34-35)".

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