quarta-feira, 19 de outubro de 2005

CASIMIRO DE ABREU, O ANJO ROMÂNTICO

José Marques Casimiro de Abreu (1839 Barra de São João 1860), poeta e dramaturgo fluminense, era filho de um rico comerciante e dono de terras no Estado do Rio de Janeiro. Estudou humanidades em Nova Friburgo, mas não chegou a concluir o curso, pois obrigado a se dedicar ao comércio. Esse episódio o deprimiu muito. Entre 1853 e 1857 viveu em Lisboa onde encenou sua peça “Camões e o Jaú” que, inclusive, obteve certo êxito, embora Casimiro fosse eminentemente poeta. De volta ao Brasil, novamente foi trabalhar no comércio da família. Em 1859, publica o volume de poesias “As Primaveras” com o apoio financeiro do pai. O poeta, depois que voltou ao Brasil, começou a levar uma vida desregrada. Diante disso, o poeta contraiu tuberculose e veio a falecer com apenas 22 anos de idade. O amor expresso em seus poemas é sempre impossível, platônico e idealizado. A saudade é um sentimento bastante cultivado nos versos do poeta, acentuada pela distância da pátria e da família, assim como o lamento da infância perdida. A grande maioria dos críticos torce o nariz para o trabalho de Casimiro, entretanto, no meu entender, a literatura brasileira deve muito a este poeta terno, delicado e inspirado que deixou seus poemas em apenas um livro. O poeta pertence à segunda geração do Romantismo, denominada Byroniana ou Mal do Século. Fiquemos, portanto, com uma raríssima jóia produzida pelo vasto universo da mente de Casimiro.


Três Cantos
Quando se brinca contente
Ao despontar da existência
Nos folguedos de inocência,
Nos delírios de criança;
A alma, que desabrocha
Alegre, cândida e pura —
Nesta contínua ventura
E' toda um hino: — esperança!

Depois... na quadra ditosa,
Nos dias da juventude,
Quando o peito é um alaúde,
E que a fronte tem calor:
A alma que então se expande
Ardente, fogosa e bela —
Idolatrando a donzela
Soletra em trovas: — amor!

Mas quando a crença se esgota
Na taça dos desenganos,
E o lento correr dos anos
Envenena a mocidade;
Então a alma cansada
Dos belos sonhos despida,
Chorando a passada vida —
Só tem um canto: — saudade!




QUE É - SIMPATIA

Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!



MEUS OITO ANOS

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem, mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
—Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Enzo Carlo Barrocco
Publicado no Recanto das Letras em 08/08/2005

Fonte: Glupo Yahoo - Grandes Civilizações - Roma e Atenas

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